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"Lógica mercantilista" justifica pedido de resposta europeia à pandemia

O primeiro-ministro reiterou na sexta-feira a necessidade de uma resposta europeia à crise financeira decorrente da pandemia, considerando não ser preciso apelar "aos valores de solidariedade", porque a "lógica mercantilista" mostra que é do interesse de todos os Estados-membros.

"Lógica mercantilista" justifica pedido de resposta europeia à pandemia
Notícias ao Minuto

06:01 - 09/05/20 por Lusa

Economia Covid-19

"Não é preciso apelar aos valores da solidariedade. A pura lógica mercantilista é suficiente para explicar por que razão é mesmo necessário que a Europa responda em conjunto", considerou António Costa numa entrevista no Porto Canal.

"É do interesse de todos. É puro egoísmo, se quiser. A Holanda, que é das maiores beneficiárias do mercado interno [europeu], não precisa de ajudar os outros para bem dos outros. Precisa de comparticipar com todos num esforço comum para seu benefício próprio", explicou o chefe do Governo.

António Costa sublinhou que a União Europeia (UE) tem de ter um "instinto de sobrevivência" e, se a resposta a esta crise devido à pandemia da covid-19 não for "em conformidade" com a gravidade do problema, todas as "pulsões antieuropeias que existem em vários países vão sair fortalecidas".

"Felizmente, o Banco Central Europeu agiu rapidamente, a Comissão Europeia deu passos para uma ação rápida, o Parlamento Europeu também. O que é que tem estado a enterrar o funcionamento das instituições europeias? Os Estados, reunidos no Concelho [Europeu]", prosseguiu Costa, acrescentando que é preciso superar a "pequena minoria que tem estado a bloquear" o processo de decisão.

António Costa realçou que "há alguns colegas" de outros Estados-membros da UE que "parecem ter a ilusão de que sozinhos resolvem os seus problemas", mas "estão enganados".

O chefe do Governo socialista exemplificou que Portugal, "depois de um grande esforço nas últimas décadas, conseguiu que 44% do seu PIB [Produto Interno Bruto] fosse de exportações", sublinhando que os "principais clientes" do país são a Alemanha e Espanha.

"Portanto, nós não estaremos bem se Espanha e a Alemanha não estiverem bem", adiantou, notando que não há possibilidade de "encontrar mercados alternativos com a dimensão dos mercados alemão e espanhol".

O primeiro-ministro realçou que esta postura também se aplica aos restantes países da UE, já que a recuperação da Europa depende da recuperação das economias espanhola e italiana, duas das mais afetadas pela pandemia.

"Os holandeses, que são dos maiores beneficiários do mercado interno, não ficarão bem sozinhos se o resto da Europa estiver mal", advertiu.

A pandemia já provocou mais de 271 mil mortos e infetou mais de 3,8 milhões de pessoas em 195 países e territórios.

A Europa contabiliza 153 mil mortos, entre mais de 1,6 milhões de casos confirmados.

Em Portugal, morreram 1.114 pessoas das 27.268 confirmadas como infetadas, e há 2.422 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.

O "Grande Confinamento" levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a fazer previsões sem precedentes nos seus quase 75 anos: a economia mundial poderá cair 3% em 2020, arrastada por uma contração de 5,9% nos Estados Unidos, de 7,5% na zona euro e de 5,2% no Japão.

Para Portugal, o FMI prevê uma recessão de 8% e uma taxa de desemprego de 13,9% em 2020.

Já a Comissão Europeia estima que a economia da zona euro conheça este ano uma contração recorde de 7,7% do PIB, como resultado da pandemia da covid-19, recuperando apenas parcialmente em 2021, com um crescimento de 6,3%.

Para Portugal, Bruxelas estima uma contração da economia de 6,8%, menos grave do que a média europeia, mas projeta uma retoma em 2021 de 5,8% do PIB, abaixo da média da UE (6,1%) e da zona euro (6,3%).

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