"Com alguma cautela, é possível recomeçar, mas também é necessário entender que esta não será uma temporada normal de turismo ou de viagens, será uma temporada com uma lenta reabertura da economia, em que será possível fazer um pouco mais do que acontece hoje [dado o confinamento], mas não será um verão normal na Europa", refere em entrevista à agência Lusa o especialista principal do ECDC para resposta e operações de emergência, Sergio Brusin.
Um dia antes de a Comissão Europeia divulgar recomendações para os setores do turismo e dos transportes, após o encerramento de fronteiras internas e externas da União Europeia (UE) e da suspensão de viagens para conter o surto, o especialista diz à Lusa as recomendações do centro europeu para estas áreas "são as mesmas" feitas em termos gerais.
"É possível retomar gradualmente [estes dois setores], mas só se [o país] conseguir monitorizar, fazer uma boa vigilância e tiver camas suficientes [nos cuidados intensivos] e equipamento de proteção suficiente para os serviços de saúde, trabalhadores na primeira linha e para a população em geral", enumera Sergio Brusin.
E por notar que "o distanciamento físico e social está a resultar", o especialista recomenda que esta medida continue a ser seguida pelos Estados-membros, tanto no que toca a meios de transporte como voos, como a locais como praias.
Em causa está, por exemplo, a opção de atribuir lugares alternados em voos para deixar o assento do meio livre entre passageiros.
"Tanto nos aviões como em todos os outros meios de transporte - como comboios, autocarros -isto é particularmente difícil [de concretizar] e cada país e cada operador terá de fazer uma rigorosa avaliação de risco", mas "se for possível manter uma distância física razoável, o risco baixa", explica Sergio Brusin.
O mesmo se aplica às praias, segundo o especialista, para quem "este tipo de medidas [de distanciamento] vão funcionar em qualquer local, seja ou não turístico".
"Se o distanciamento social é possível numa grande praça numa determinada cidade, também irá resultar numa praia, nas ruas. O que sabemos é que as pessoas não devem estar fisicamente próximas para não transmitirem o vírus dessa forma", insiste Sergio Brusin.
E compara: "Se estiver a andar numa rua com muita gente em Lisboa, será tão mau como estar numa praia cheia em Marbella [Espanha]".
Já questionado sobre a colocação de possíveis divisórias em praias e em restaurantes, Sergio Brusin explica que "depende bastante da configuração" porque só se as pessoas estiverem "distanciadas por dois metros ou mais" é que têm "risco muito baixo de transmitir a doença".
"Se o quiserem fazer com uma divisória em vidro ou colocando mesas mais afastadas umas das outras é quase a mesma coisa e depende sempre muito do espaço que há disponível, da situação local, se há vento ou humidade, se é um espaço fechado ou aberto", elenca.
Ainda assim, deixa o alerta: "Há várias coisas que podem baixar o risco, mas nenhuma pode garantir que não há risco".
"A grande conclusão é que é preciso manter distância. Se se conseguir manter a distância, as coisas vão correr muito melhor. E já o vimos nos últimos meses, [porque] quando essas medidas foram aplicadas, o número de casos baixou", conclui Sergio Brusin.
Sediado na Suécia, o ECDC é um organismo da UE que ajuda os países a preparar a resposta a surtos de doenças.