Cabo Verde Airlines vale quase 8% do PIB mas está parada desde março
As exportações garantidas pela Cabo Verde Airlines cresceram 37% em 2019, levando o negócio da companhia, que está parada desde março devido à covid-19, a valer quase 8% do PIB cabo-verdiano.
© Cabo Verde airlines
Economia Aviação
Segundo dados compilados pela Lusa a partir de um relatório de política monetária do Banco de Cabo Verde (BCV), de final de abril, a exportação de serviços de transportes, assegurados pela Cabo Verde Airlines (CVA) - desde março do ano passado liderada por investidores islandeses, após a privatização parcial -, ascendeu a 15.211 milhões de escudos (137,6 milhões de euros) em 2019.
O Produto Interno Bruto (PIB) de Cabo Verde de 2019 foi estimado anteriormente em 197,8 biliões (milhões de milhões) de escudos (1.790 milhões de euros), daí que a receita com os passageiros transportados pela CVA -- apenas rotas internacionais, que contam como exportação de serviços - representou praticamente 8% do PIB cabo-verdiano.
O desempenho positivo das contas externas cabo-verdianas (de serviços, o país continua a ser deficitário na balança comercial de bens) levou mesmo a um aumento histórico no stock das reservas internacionais líquidas, que chegaram a 661 milhões de euros, suficientes para 6,9 meses de importações de bens e serviços, em 2019.
"A melhoria da balança corrente, reflexo sobretudo do aumento das exportações de serviços e das transferências dos emigrantes e oficiais, numa conjuntura de redução dos preços das mercadorias importadas, explica o desempenho das contas externas em 2019", nota o documento do BCV, que realça o saldo positivo da balança de serviços, que cresceu 26%, de 2018 para 2019, chegando a 37.332 milhões de escudos (338 milhões de euros).
Esse desempenho foi "impulsionado pela expansão das exportações de transporte aéreo", que subiram 37%, e de viagens, que aumentaram, também face a 2018, cerca de 8%, neste último caso para 49.896 milhões de escudos (451,5 milhões de euros) e explicado com o "aumento dos preços dos hotéis e restaurantes".
O crescimento nas exportações dos transportes aéreos são associados, escreve o banco central, "aos resultados da política comercial da companhia aérea nacional", a CVA, mas também devido à "dinâmica da procura turística e de eventos desportivos e políticos regionais realizados no país".
Em março de 2019, o Estado de Cabo Verde vendeu 51% da então empresa pública TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde) por 1,3 milhões de euros à Loftleidir Cabo Verde, uma empresa detida em 70% pela Loftleidir Icelandic EHF (que ficou com 36% da CVA) e em 30% por empresários islandeses com experiência no setor da aviação (que assumiram os restantes 15% da quota de 51% privatizada). Outra parcela, de 10%, foi vendida em 2019 a trabalhadores e emigrantes cabo-verdianos.
A CVA transportou quase 345 mil passageiros no primeiro ano após a privatização de 51% da companhia, um aumento de 136% face ao período anterior, segundo dados da transportadora, mas desde 18 de março que, face à proibição dos voos internacionais para o arquipélago decidida pelo Governo, suspendeu a atividade operacional.
Questionada pela Lusa sobre o desempenho da companhia após a privatização, em 01 de março de 2019, a administração da CVA, liderada pelo grupo Icelandair, refere que transportou, até 28 de fevereiro de 2020, um total de 344.639 passageiros, face aos 145.629 transportados de março de 2018 a fevereiro de 2019, pela então TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde), detida totalmente pelo Estado.
"Após a privatização bem-sucedida da CVA, a implementação da estratégia de 'hub' no Sal, de conectar quatro continentes, mostrou um aumento imediato do número de passageiros. Esse crescimento bem-sucedido continuou ao longo de 2019", explicou, a propósito destes números, o presidente do conselho de administração e diretor executivo da CVA, Erlendur Svavarsson.
Totalmente parada atualmente, nas semanas anteriores à suspensão da atividade operacional, a transportadora já tinha começado a suspender várias rotas devido à covid-19.
A companhia mantém a perspetiva de retomar as operações em 01 de julho, "sujeita às recomendações da OMS e possíveis restrições locais" nos destinos onde opera.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística, em 2019, as unidades hoteleiras cabo-verdianas receberam 819.308 hóspedes, um aumento de 7% face a 2018, e 5.117.403 dormidas, um crescimento também homólogo de 3,7%.
Apesar destes números, o vice-primeiro-ministro de Cabo Verde, Olavo Correia, já admitiu que o país deverá perder meio milhão de turistas em 2020, quebra superior a 60% face a 2019, além de um corte de 4% no PIB, devido à covid-19.
Os dados do banco central corroboram estas preocupações, apontando para "uma contração do produto interno em volume, em 2020, em pelo menos 4%, em larga medida resultado da retração da procura externa".
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