"Após investigação, a AdC concluiu que existem indícios de que as empresas Modelo Continente, Pingo Doce e Auchan utilizaram o relacionamento comercial com o fornecedor Bimbo Donuts para alinharem os preços de venda ao público (PVP) dos principais produtos deste último, em prejuízo dos consumidores", afirmou a AdC em comunicado na quinta-feira, considerando a conduta em causa "muito grave".
Em comunicado enviado hoje, a Sonae MC refere que "os termos das acusações serão analisados com total rigor e firmeza no sentido de, em momento e lugar próprio, serem utilizados todos os meios ao alcance, com vista à salvaguarda dos direitos, reputação, valores e integridade da Sonae MC e da sua participada".
A empresa "lamenta o facto de, mais uma vez, ter sido emitido um comunicado sem prévia notificação e conhecimento do conteúdo pelas partes envolvidas".
A Lusa questionou a Sonae MC se já tinha sido notificada, tendo em conta que a Auchan e o Pingo Doce disseram na quinta-feira que tinham sido notificados, tendo fonte oficial informado que tal só aconteceu hoje.
A dona do Modelo Continente refere ainda que a comunicação da AdC na quinta-feira "coloca de novo em causa o bom nome e a reputação da Sonae MC e da sociedade por si participada sem garantir previamente o direito de defesa, uma vez que a acusação representa apenas uma fase provisória, ainda sujeita ao exercício do direito de defesa das partes envolvidas".
A Sonae MC "está ciente das suas obrigações legais e reitera o seu compromisso de conduzir a sua atividade no estrito cumprimento da lei, concretamente no que concerne a regras em matéria de concorrência. Mais ainda, a Sonae MC e a sua participada são entidades idóneas, com um papel relevante na democratização do consumo, num mercado notoriamente competitivo, garantindo, hoje e sempre, uma oferta de produtos e serviços de qualidade, aos melhores preços, para os seus clientes", conclui.
Os três grupos de distribuição alimentar e o fornecedor de bolos, pães pré-embalados e substitutos do pão BimBo Donuts, acusados de concertação dos preços praticados ao consumidor, foram objeto de nota de ilicitude há um dia, depois de a investigação concluir existirem indícios da prática de cartel.
"Os comportamentos investigados duraram vários anos, tendo-se desenvolvido, pelo menos, entre 2004 e 2017", precisou a AdC, explicando tratar-se de uma prática que prejudica os consumidores por limitar a opção de escolha pelo preço, uma vez que aquelas três cadeias de supermercados representam "mais de metade" do mercado da grande distribuição em Portugal.
A AdC diz ter em curso "mais de 10 investigações" no setor da grande distribuição de base alimentar, algumas ainda sujeitas a segredo de justiça, e adianta que a acusação hoje anunciada integra um "segundo conjunto" de casos de 'hub-and-spoke' em investigação, que envolvem a grande distribuição e fornecedores.