Em declarações à Lusa, após uma reunião com a administração da EDP Produção "para encontrar soluções que minimizem o impacto do encerramento da central" na região, Nuno Mascarenhas (PS) reconheceu que "há um conjunto de projetos em Sines que podem absorver parte da mão-de-obra" mas que, para isso, é necessário que se passe "dos acordos escritos à ação".
"É importante que haja da parte do Ministério do Trabalho [Solidariedade e Segurança Social] um compromisso firme de solução para os trabalhadores que, a partir de janeiro, poderão ter problemas em termos laborais", afirmou o autarca.
Nesse sentido, Mascarenhas diz estar em contacto com o secretário de Estado Adjunto e da Energia, João Galamba, e que existe "total disponibilidade" para uma reunião que envolva a Segurança Social, o Instituto do Emprego e Formação Profissional, a EDP, a Câmara Municipal e a secretaria de Estado a fim de "encontrar várias soluções".
Além da possibilidade de desenvolver um projeto de produção de hidrogénio verde, o presidente da Câmara lembrou ainda que a construção do cabo submarino de fibra ótica entre o Brasil e Sines pode motivar a "abertura de 'data centers' ou outras infraestruturas", mas que, para que este tipo de atividade possa absorver parte da mão-de-obra, é necessário dar "uma resposta adequada para formar estes trabalhadores".
A antecipação em dois anos do encerramento da central, de resto, criou "novos problemas que não estavam a ser equacionados no passado" e o impacto do mesmo é, neste momento, o "foco da atuação das várias entidades no sentido de minimizar os impactos em termos de questões laborais".
"A questão dos postos de trabalho é o ponto fulcral, mas há toda uma questão económica local, uma vez que a central era uma das unidades que mais contribuía para o desenvolvimento da economia da região, porque a maioria dos trabalhadores são de Sines e de Santiago do Cacém. Mas, depois, gerava-se toda uma economia em torno da atividade da central, nos transportes, manutenção, entre outras, que fazia com que esta fosse uma das atividades mais importantes do concelho", descreveu Nuno Mascarenhas.
Quanto ao total de trabalhadores afetados pelo encerramento antecipado das central, o autarca referiu que essa é uma informação que "a EDP poderá disponibilizar", mas tem "consciência de que são algumas centenas".
Relativamente à infraestrutura que irá ser desativada, Nuno Mascarenhas lembra que "é importante começar a pensar na questão do que fazer à central", uma vez que "pode ser um ativo importante para o país", e vê "com muito bons olhos" o projeto do hidrogénio verde, embora lembre que "há um grande caminho a fazer".
"Há sempre quem seja opositor, mas não é por acaso que outros países estão a investir nesta energia e ainda hoje saiu nas notícias que a Hyundai está a produzir e a vender à Suíça autocarros movidos a hidrogénio. Se Portugal apostar neste caminho, com as devidas cautelas, com um projeto bem maturado e analisado, acredito que seja o caminho para substituir a central elétrica" apontou Nuno Mascarenhas.
A EDP decidiu antecipar o encerramento das suas centrais a carvão na Península Ibérica, o que representa um custo extraordinário de cerca de 100 milhões de euros (antes de impostos) em 2020, revelou hoje a empresa.
Numa informação publicada hoje pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a elétrica portuguesa considera que a decisão foi tomada tendo em conta "a continuada deterioração das condições de mercado para estas centrais durante o primeiro semestre de 2020".
A EDP acrescenta que está a desenvolver projetos nas regiões destas centrais para realizar "potenciais investimentos alinhados com a transição energética".
No caso da central de Sines (1.180 MW), que não produz energia desde janeiro 2020, será hoje entregue uma "declaração de renúncia" à licença de produção, para encerramento em janeiro de 2021.
Nesta unidade, a empresa está a avaliar o desenvolvimento, em consórcio, de um projeto de produção de hidrogénio verde com possibilidade de exportação por via marítima.