"Nós não temos uma bola de cristal, mas, de facto, temos grandes preocupações com o que vai acontecer quando terminar o período dos 'lay-off' simplificados ou das medidas que estão em vigor, porque não foram garantidas as condições para que as empresas se mantivessem com viabilidade", disse Isabel Camarinha aos jornalistas no Palácio de Belém, em Lisboa.
Após a reunião convocada por Marcelo Rebelo de Sousa, e instada a comentar o que pode acontecer depois do aumento da taxa de desempego para 7% em junho, conhecido hoje, a sindicalista defendeu que "a proibição dos despedimentos e a garantia da totalidade dos salários aos trabalhadores é a melhor forma de garantir a viabilidade das empresas, porque isso vai obrigar a economia a funcionar".
"Não havendo estas garantias, continuando a haver perda de rendimentos, trabalhadores com vínculos precários [...] que podem ser despedidos pelas empresas, aumentando o número dos desempregados, quando terminar este período de medidas que estão em vigor, ou há um romper com estas opções que têm vindo a ser tomadas, ou a situação poderá ficar muitíssimo mais difícil", vaticinou a secretária-geral da CGTP.
Após a reunião com o Presidente da República, Isabel Camarinha afirmou que o chefe de Estado pretendeu ouvir a intersindical acerca "do Orçamento do Estado Suplementar que foi aprovado, a visão estratégica do professor Costa Silva, a preparação do próximo Orçamento do Estado e as medidas que têm vindo a ser tomadas".
"A CGTP reafirmou aqui aquilo que têm sido as suas posições, revindicações e exigências de que haja uma rutura com o modelo que temos no nosso país: de baixos salários, de precariedade, de uma legislação laboral que favorece o boicote à contratação coletiva", enumerou a dirigente sindical.
Isabel Camarinha considerou também existir uma "necessidade urgente de investimento nos serviços públicos e nas funções sociais do Estado", de forma a "dar resposta aos problemas dos trabalhadores e das empresas", garantindo os salários na totalidade aos trabalhadores.
"Deixámos aqui ao senhor presidente um conjunto de propostas que a CGTP tem, quer para responder à situação atual, quer do ponto de vista estratégico para o nosso país e para a defesa dos interesses e direitos dos trabalhadores", acrescentou a dirigente sindical.
Isabel Camarinha antecipou que o desemprego poderá "disparar daqui a uns meses, como poderá acontecer se não houver alteração das opções" governativas, instando o Governo a "optar" por defender os trabalhadores e as empresas mais pequenas.
A secretária-geral da CGTP classificou ainda o plano do gestor António Costa Silva de "bastante genérico, que não concretiza, de facto, como é que se vão atingir as questões apontadas" nem como se altera "a forma de gestão da economia".
Instada a comentar a afirmação de hoje do ministro de Estado, da Economia e Transição Digital, Pedro Siza Vieira, que referiu que alguns indicadores recentes da atividade das empresas e do emprego "levam a pensar que o ponto mais crítico da contração económica já ficou para trás", Isabel Camarinha referiu que "o desemprego continua a aumentar, não só o dos centros de emprego, com a inscrição de trabalhadores, mas também a perda de ocupação de muitos milhares".
"Neste momento temos esta situação de várias medidas que estão em vigor e que podem estar a esconder um pouco a realidade", alertou a dirigente sindical.