A posição foi assumida em entrevista à Lusa por Paulo Lopes, administrador-executivo da CV Interilhas, liderada (51%) pela Transinsular, do grupo português ETE, a propósito do primeiro ano de atividade da empresa, que desde 15 de agosto 2019 é concessionária daquele serviço por 20 anos, após concurso público internacional lançado pelo Governo.
"Um ano, apesar de todo este desafio inesperado da covid-19, em que o balanço é positivo, mas em que temos muita coisa para fazer e muito para melhorar", afirmou, admitindo que a pandemia teve "um grande impacto" na atividade da empresa, desde logo pela suspensão, durante um mês e meio, de todas as ligações interilhas de transporte de passageiros.
No início da crise sanitária, que levou Cabo Verde a entrar em estado de emergência no final de março, a CV Interilhas chegou a ter uma "redução de 80% da atividade", mantendo apenas o transporte de carga e evacuações médicas, o que levou a parar três dos cinco navios da frota, colocando em regime de 'lay-off' 27 dos 155 trabalhadores que foram contratados.
"Temos vindo gradualmente a recuperar, estamos neste momento em 50% de níveis pré-covid. Estamos a projetar que o impacto nas nossas receitas seja, no acumulado do ano, cerca de 35%. E isso pode representar um impacto de cerca de 500 mil contos [500 milhões de escudos, 4,5 milhões de euros], inferior em relação aquilo que tínhamos inicialmente projetado", acrescentou Paulo Lopes.
No primeiro ano de atividade (até agosto de 2020) a CV Interilhas transportou 423.000 passageiros entre as ilhas cabo-verdianas, em 4.060 viagens, além de 39.000 viaturas e 41.000 toneladas de carga geral.
A empresa fechou 2019 com um aumento de 25% nos passageiros transportados face ao modelo anterior à concessão -- assegurado individualmente por vários armadores, que agora têm 49% do capital social da CV Interilhas e fornecem os navios à empresa -- e o crescimento acumulado em março último apontava para uma subida de 17%.
Contudo, com a quebra da atividade desde abril, o acumulado do primeiro ano de atividade -- em 12 meses de operações, cinco são afetados pela pandemia -- o total de passageiros transportados caiu 7%, em termos homólogos.
Em termos operacionais, e "apesar de inferiores ao projetado" devido à pandemia, Paulo Lopes admite que os números são "bastante animadores".
Além do período de abril a maio sem transporte de passageiros e a retoma gradual das ligações entretanto iniciada, o administrador da CV Interilhas recorda que a empresa está agora obrigada a reduzir a lotação dos navios a 50%, como medida de prevenção da doença.
"Sendo a concessão [do serviço público de transporte marítimo de passageiros e carga] deficitária, passa a ser mais deficitária. Obviamente que isso não tem um impacto direto, porque há uma redução também de custos, nós implementamos um conjunto de medidas, nomeadamente chegamos a parar navios para reduzir os custos de operação", disse o administrador, admitindo, contudo, que a subvenção do Estado, prevista no contrato de concessão, não será suficiente em 2020.
Essa compensação, que este ano deveria subir para 368 milhões de escudos (3,3 milhões de euros) é financiada através de receitas consignadas ao Fundo Autónomo do Desenvolvimento e Segurança dos Transportes Marítimos, que já antecipou uma parte do valor previsto em 2020.
"Vai haver com certeza uma necessidade adicional, ou está a haver, resultante da quebra de faturação, de receitas. Há de ser uma equação que tem a ver com a redução de receitas e alguma redução também de custos operacionais. É este equilíbrio que vai necessitar de ter um reforço nas compensações", acrescentou Paulo Lopes, escusando-se a avançar números para "evitar especulações".
"Prevemos recuperar gradualmente, mas admitimos que não vamos conseguir os números inicialmente projetados até ao fim do ano, porque ainda há muita incerteza sobre o tempo que esta crise irá durar", explicou, sublinhando a expectativa de voltar a cumprir os objetivos inicialmente traçados para a atividade da CV Interilhas no início de 2021.
Sobre o primeiro ano de operação, garante que a CV Interilhas introduziu sobretudo segurança e previsibilidade no transporte marítimo em Cabo Verde.
"É um balanço bastante positivo dentro deste quadro e acho que prestamos um bom serviço. Para além disso, acho que conseguimos mudar aquilo que é o paradigma do transporte, habitualmente vinha atrasado, não era certo. Ouve-se dizer que antes era notícia haver navio, hoje é notícia não haver navio", concluiu, recordando que nos navios da frota nasceram no último ano quatro bebés.