No relatório "Perspetivas Económicas e Orçamentais 2020-2024", hoje divulgado, o Conselho de Finanças Públicas (CFP) refere que estas previsões assentam na hipótese de não alteração de políticas e não contemplam o plano de recuperação da Europa 2021-2027, cujas medidas ainda não se encontram definidas.
A contração de 9,3% do Produto Interno Bruto (PIB) que o CFP antecipa para 2020 traduz uma revisão em baixa em 1,8 pontos percentuais face às anteriores previsões, de junho, justificada pelos dados das contas nacionais entretanto conhecidos e que confirmam que a quebra da atividade económica causada pela pandemia de covid-19 foi "mais acentuada" do que o esperado.
"Esta revisão deve-se principalmente ao contributo das exportações líquidas", aponta o relatório que assinala uma revisão em baixa para -22,5% das exportações em 2020 "sobretudo pelo pior desempenho das exportações de serviços verificado no 1.º semestre, associado ao setor do turismo". Neste contexto, antecipa "uma perda de quota de mercado este ano e uma recuperação mais lenta deste setor face ao cenário base anterior".
Na atualização das suas previsões económicas, no Orçamento do Estado Suplementar, o Governo projeta que o PIB contraia 6,9% em 2020 e que aumente 4,3% no próximo ano.
Acentuando o elevado contexto de incerteza e que o impacto económico da pandemia dependerá da forma como a doença vai evoluir e da eficácia das medidas de mitigação, o CFP prevê que a evolução do PIB regresse a terreno positivo em 2021.
Para o próximo ano, o CFP prevê que a economia cresça 4,8% (acima dos 3,0% que apontava em junho), projetando um crescimento de 2,8% para 2022, sendo esta evolução suportada "pela dinâmica do consumo privado e do investimento".
"As exportações deverão também contribuir significativamente para a retoma da atividade económica, ainda que se admita uma perda de quota de mercado em 2021 e a normalização no setor do turismo apenas em 2022", detalha o organismo.
O CFP estima ainda que no médio prazo, e na ausência de medidas, o crescimento da atividade económica "deverá convergir para valores em torno de 1,7%" (1,8% em 2023 e 1,6% em 2024), pelo que a economia portuguesa deverá recuperar o nível real do PIB registado antes da pandemia apenas em 2024.
Relativamente ao mercado de trabalho, o CFP estima uma contração do emprego de 4,0% em 2020 (valor que traduz uma revisão em alta de 1,0 pontos percentuais face às previsões de junho) e uma taxa de desemprego de 10,0%.
"A recuperação da atividade económica a partir do final de 2020 deve levar à subsequente recuperação do crescimento do emprego para 1,3% em 2021 e 1,1% em 2022, bem como à diminuição da taxa de desemprego para 8,8% e 7,8% em 2021 e 2022, respetivamente", assinala o relatório, antecipando que "para 2024 (médio prazo), a maturação do mercado de trabalho reflete-se num crescimento do emprego na ordem dos 0,4% e na estabilização da taxa de desemprego em torno de 6,8%", sublinha o documento.
O CFP estima ainda que a evolução dos preços continue contida em 2020, com uma taxa de inflação de 0,1%.