"Há cerca de três milhões de dólares disponível para podermos atribuir créditos aqueles que verdadeiramente querem trabalhar", disse o primeiro-ministro, Jorge Bom Jesus, no ato central para assinalar o 45.º aniversário da nacionalização das roças.
"Vamos ter que controlar esse crédito, não vai ser como os vários créditos que foram distribuídos a longo de 45 anos e que cada um comeu ou utilizou para outros fins. Este crédito é para desenvolver o setor privado, desenvolver o país, para criar emprego, sobretudo emprego jovem", explicou o chefe do executivo.
Jorge Bom Jesus lembrou que na administração pública do país, sobrecarregado com cerca de 11 mil efetivos "já não há espaço para meter mais gente".
O ato central para assinalar a efeméride, considerado pelo primeiro-ministro como "a segunda data mais importante depois do 12 de julho [dia da independência]" foi realizado em Colónia Açoreana, uma comunidade agrícola a cerca de 25 quilómetros a sul de São Tomé.
"Foi o primeiro passo que a República deu no sentido de ter uma verdadeira independência económica", defendeu Jorge Bom Jesus, contrariando opiniões que defendem que 30 de setembro "é uma data esvaziada de conteúdo porque as roças já não pertencem ao Estado".
"Nós somos um dos países mais pequeno da África, um território arquipelágico completamente fechado com essa muralha do mar, mas é um país abençoado", explicou o governante, sublinhando que o seu país "tem tudo para dar certo".
E acrescentou: "Deus colocou tudo aqui, a nossa pobreza não é culpa da natureza, não é culpa de Deus. Nós é que estamos a chamar a pobreza para aqui e temos que virar isso".
O governante apelou aos são-tomenses para serem "o dono" dos seus destinos, referindo que "a cooperação internacional" está no país para apoiar, mas terão de ser os nacionais a "assumir as rédeas" do que querem no presente e no futuro.
Jorge Bom Jesus sublinhou que os efeitos da pandemia de covid-19 "mostrou que o são-tomense tem capacidade" e que o "país tem potencialidade, tem oportunidade" e que só falta "colocar a mão na terra".
O primeiro-ministro reconheceu que é necessário "repensar, refundar o país de atitudes de práticas e comportamento em relação ao desenvolvimento".
O lançamento de uma campanha de produção da matabala (tubérculo) como parte de um plano nacional de resposta à covid-19 marcou a comemoração da efeméride.
Matabala é um produto bastante importante na dieta alimentar da população, de elevado valor nutricional para crianças e adultos.
O lançamento da produção em larga escala da matabala enquadra-se na campanha denominada "Vamos Plantar para Conseguirmos o que Comer", que beneficia 1.136 agricultores para os quais já serão distribuídos 200 mil estacas de mandioca, 146 mil plantas de batata doce, 26 mil plantas de limoeiro, 1,5 toneladas de milho, uma tonelada de soja e 30 mil plantas de banana pão.
O ministro da Agricultura, Pescas e Desenvolvimento Rural, Francisco Ramos, lamentou a "forma leviana, gratuita e irresponsável" como alguns cidadãos recorrem ao "corte desordenado, anárquico e abusivo de árvores nas parcelas cedidas pelo Estado para agricultura".
"É de todo o interesse que o Estado reaja, acionando mecanismos institucionais no sentido de se por cobro a uma situação grave", disse Francisco Ramos.
O ministro anunciou para meados de novembro um "encontro de coordenação de parceiros de desenvolvimento agrícola e corpo diplomático", que se destina a "harmonizar as ações e apoios necessários para a implementação de programas e projetos futuros" no domínio agrícola.
Em junho, o ministro anunciou que o Governo "conseguiu arrecadar 25 milhões de dólares" de parceiros, designadamente do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), Agência Francesa de Desenvolvimento, Fundo de Adaptação de Mudança Climáticas e Fundo Mundial do Ambiente, com os quais pretende "dar o salto qualitativo no setor primário".
A representante em São Tomé e Príncipe do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Kataryna Wawiernia, também participou na celebração do 45.º aniversário do Dia da Nacionalização das Roças.
Wawiernia referiu que o incremento da produção da matabala aumentará o "acesso deste produto à população mais vulnerável, melhorando assim a segurança alimentar".
"A iniciativa poderá melhorar igualmente outro grande objetivo estratégico do Ministério da Agricultura que é a substituição gradual da importação de produtos alimentares pela produção local", defendeu a representante do PNUD.