OE tem de mostrar "que não estamos a voltar a políticas de austeridade"

O economista Manuel Caldeira Cabral considera essencial que a proposta de Orçamento do Estado para 2021 (OE2021) mostre claramente que o país não está a regressar às políticas de austeridade aplicadas em 2011.

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Lusa
10/10/2020 06:13 ‧ 10/10/2020 por Lusa

Economia

Caldeira Cabral

"É importante que o próximo Orçamento seja anticíclico, mostre um claro compromisso de que não estamos a voltar a 2011, a políticas de austeridade", defende aquele que foi o primeiro ministro da Economia do primeiro Governo liderado por António Costa.

Atualmente a ocupar o cargo de vogal do Conselho de Administração da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões, Caldeira Cabral justifica a necessidade de se dar este sinal aos agentes económicos para que se faça uma gestão das expectativas que permita impulsionar a recuperação da economia.

"É importante ter políticas que trabalhem, não só para compensar a queda da economia, mas também no sentido de gerar expectativas mais positivas de crescimento", explica numa entrevista à Agência Lusa feita na condição de que não se abordariam os temas relacionados com a supervisão do setor dos seguros.

Apesar de defender a necessidade de não aplicar medidas de austeridade em 2021, Caldeira Cabral defende também a posição do Governo de, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência da União Europeia, prescindir dos empréstimos disponíveis, apostando na execução dos 15,3 mil milhões de euros em subvenções diretas.

"Os empréstimos seriam muito importantes se o Estado estivesse com dificuldades de se financiar ou se esse financiamento fosse necessário", explica o antigo ministro, adiantando que não é esse o caso uma vez que Portugal se está "a financiar com taxas que estão entre as mais baixas a que alguma vez se financiou" e que chegam a ser negativas nalguns prazos.

Caldeira Cabral defende ainda que no âmbito do Orçamento para 2021 se avance rapidamente com as medidas de estímulo à economia.

"Se essas medidas se se concretizarem em investimento e em despesa no primeiro e no segundo trimestre terão o efeito de alteração das expectativas e de estancar a perda de emprego".

O economista explica que não está a defender aumentos exagerados do lado da despesa, mas que se deve seguir uma política semelhante à usada entre 2015 e 2019.

"Mostrámos que um aumento moderado da despesa, bem focado e bem canalizado para áreas em que tem efeitos multiplicadores muito fortes pode dar um estímulo forte à economia", defende.

Tudo medidas que, segundo o economista, ajudarão à recuperação de uma economia que terá batido no fundo no segundo trimestre deste ano quando registou uma quebra trimestral homóloga de 16,3% do Produto Interno Bruto (PIB).

"Depois de uma queda muito forte no segundo trimestre, temia-se que o terceiro trimestre também fosse bastante mau por causa do turismo, mas há alguns sinais, principalmente no quarto trimestre, que mostram que a economia está a recuperar lentamente, mas está a recuperar", sublinha Caldeira Cabral.

O antigo ministro diz acreditar que estes sinais se irão manter no próximo ano, com o primeiro trimestre de 2021 "ainda a ser de queda homóloga", mas com o PIB no segundo e terceiro trimestre a registar "crescimentos homólogos muito fortes".

Apesar destas boas notícias, Caldeira Cabral adverte para o facto de os resultados ainda serem negativos ao nível do emprego.

"O crescimento do desemprego vai continuar até ao final deste ano, vai continuar no primeiro trimestre do próximo ano e possivelmente só a meio do próximo ano é que vamos ter uma estabilização, ou até uma diminuição do desemprego", prevê o economista.

Caldeira Cabral acredita, ainda assim, numa recuperação forte em 2021, mas explica que é preciso ter consciência do que significa essa recuperação.

"Depois de uma queda de 8% em 2020, se calhar a maior desde a Segunda Guerra Mundial, em 2021 vamos ter o maior crescimento desde os anos 90. Mas se crescermos 4,5% significa que ainda ficamos muito atrás de onde estávamos em 2019", ou seja, prossegue o economista, "provavelmente só em 2022 ou em 2023 é que vamos conseguir voltar ao nível de 2019".

 

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