"As moratórias atingem em Portugal uma dimensão muito signficativa, muito maior do que média do cojunto da área do euro e da união Europeia", começou por dizer Mário Centeno ao ser ouvido hoje pela Comissão de Orçamento e Finanças (COF) do parlamento.
O governador do BdP defendeu que "é um instrumento que de deve manter ativo mas que deve ir evoluindo e adapando-se, ele próprio, à evolução da crise".
"Devemos reavaliar a amplitude, a dimensão, o foco dessas moratórias, ao longo dos próximos meses", defendeu o responsável máximo do supervisor bancário.
Na semana passada, Mário Centeno já tinha alertado para as consequências da retirada de medidas de apoio à economia, como as moratórias, antes do tempo.
"Não podemos de deixar de nos preocupar com efeitos que possam vir a resultar ao longo dos próximos meses. Há um conjunto destas medidas, como as das moratórias, que podem gerar preocupações sobre o surgimento de crédito malparado", disse Mário Centeno em resposta aos jornalistas, após a apresentação do Relatório de Estabilidade Financeira de dezembro.
O governador do BdP alertou especificamente para os efeitos de 'cliff-edge', "no sentido de que há uma interrupção dessas medidas e depois uma dificuldade de adaptação para o período seguinte".
"Temos que nos preparar para esses momentos e esperar que o conjunto de decisões a serem tomadas permitam uma acomodação dessas situações", vaticinou Mário Centeno.
O responsável máximo do banco central salientou, no entanto, que "neste momento, em todos os cenários, e inclusive nos cenários de 'stress' que foram sendo desenvolvidos e que estavam já preparados antes da crise pandémica, não existe evidência de que essas situações, sendo acomodadas do ponto de vista das políticas, venham a constituir um problema".
Segundo o governador do BdP, "as moratórias são úteis num determinado quadro", mas "podem ter efeitos negativos na sinalização que é necessária dar aos agentes económicos da necessidade de retomar um conjunto de atividades e responsabilidades que pré-existiam à crise".
O sistema bancário nacional concedeu um total de 46 mil milhões de euros em moratórias de crédito até setembro, ao abrigo dos sistemas implementados na sequência da pandemia de covid-19, segundo dados do Banco de Portugal (BdP).
Segundo os dados do supervisor bancário divulgados na sexta-feira, dos 46 mil milhões de euros, 24,4 mil milhões de euros dizem respeito a empresas (sociedades não financeiras, na designação técnica) e 21,6 mil milhões de euros às famílias.
Em junho, o total de moratórias concedidas ascendia a 43,2 mil milhões de euros, dos quais 22,5 mil milhões de euros relativos a empresas e 20,7 mil milhões de euros a famílias.