"No seguimento de uma significativa mudança no sentimento do mercado no segundo trimestre do ano passado, os países emissores de dívida soberana na África subsaariana recuperaram o acesso ao mercado internacional de títulos de dívida", lê-se numa análise aos mercados de dívida africanos.
O documento, enviado aos investidores e a que a Lusa teve acesso, nota que desde o terceiro trimestre do ano passado só quatro países emitiram dívida - Costa do Marfim, Benim, Egito e Marrocos - esperando que outros sigam o exemplo este ano devido às "condições favoráveis de liquidez" e que aproveitem para 'rolar a dívida', isto é, dilatar os prazos de pagamento, e financiar o alargamento dos défices orçamentais.
"Antevemos que a emissão de dívida pelos países africanos recupere este ano, alcançando cerca de 25 mil milhões de dólares [20,6 mil milhões de euros], acima dos 15 mil milhões de dólares [12,6 mil milhões de euros] do ano passado, principalmente devido à recuperação na África subsaariana, que no ano passado emitiu apenas 5,2 mil milhões de dólares [4,1 mil milhões de euros]", estima o IFI.
Estes valores, a confirmarem-se, vão fazer com que 2021 seja "o terceiro maior ano em termos de emissão de dívida, só abaixo dos 26,6 mil milhões de dólares [21,9 mil milhões de euros] em 2019 e dos 28,8 mil milhões de dólares [23,7 mil milhões de euros] de 2018, o que demonstra bem a dramática mudança positiva no sentimento do mercado no segundo trimestre do ano passado".
No entanto, alertam, "as preocupações a médio prazo continuam, já que os países africanos enfrentam pagamentos de perto de 100 mil milhões de dólares [82,4 mil milhões de euros] entre 2021 e 2032, devido à forte emissão nos últimos anos", em que aproveitaram o ambiente de baixos juros no seguimento da crise global financeira", emitindo 147 mil milhões de dólares (121,1 mil milhões de euros) entre 2009 e 2020.
Destes 100 mil milhões, "58 mil milhões de dólares [484 mil milhões de euros] representam as emissões dos países da África subsaariana".
Para este ano, o IFI antevê que os países regressem ao mercado, "com a exceção de Angola, onde as dinâmicas desfavoráveis da dívida desencadearam uma descida dos 'ratings' pelas três agências de notação financeira".
Apesar da pandemia de covid-19 e dos diferentes desenvolvimentos regionais, os economistas desta associação de credores privados salientam que "o sentimento do mercado parece ser amplamente favorável à África, com a maioria dos países a verem a sua dívida transacionada a valores ao nível ou acima dos níveis da pandemia".
Com dados até este mês, 20 países africanos devem um total de 134 mil milhões de dólares [110,7 mil milhões de euros], com a África subsaariana a valer cerca de 60%, mas relacionando com o Produto Interno Bruto (PIB), o peso da dívida é mais elevado no norte de África, onde os títulos de dívida soberana (Eurobonds) representam cerca de 10% da riqueza da região, concluem os economistas do IFI.
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