"Apesar de as mulheres estarem cada vez mais representadas e ativas no mercado laboral, continuam a ser tratadas de forma desigual e têm cada vez mais dificuldade em conciliar o trabalho com a vida pessoal e familiar e a pandemia da covid-19 ainda veio agravar mais a situação, porque houve um aproveitamento por parte de muitas empresas para desregular ainda mais os horários", disse à agência Lusa Fátima Messias, da Comissão Executiva da CGTP.
Para a sindicalista, que coordena a Comissão para a Igualdade da CGTP, a pandemia foi um meio para certas empresas "agravarem os horários de trabalho, não darem aumentos salariais e despedirem".
"Mas a pandemia não pode ser justificação para tudo", disse a sindicalista, acrescentando que "muitas mulheres perderam o emprego de um dia para o outro, sobretudo as que ganham os salários mais baixos".
Para denunciar as situações de desigualdade e de dificuldade das mulheres em conciliar o trabalho com a vida pessoal e familiar, a Intersindical promove entre os dias 08 e 12 a Semana da Igualdade, no âmbito da qual vão ocorrer mais de 900 iniciativas com trabalhadoras de todo o país, entre concentrações, plenários junto a empresas e encontros em locais de trabalho.
Segundo Fátima Messias, já estão marcadas cerca de 900 iniciativas, mas ainda estão a ser organizadas algumas ações, estimando que as iniciativas venham a rondar o milhar.
"Mesmo em fase de pandemia vamos ter iniciativas por todo o país, sobretudo na rua, para garantir o distanciamento social (...) e queremos que sejam os trabalhadores os protagonistas destas ações", disse.
Fátima Messias divulgou em conferência de imprensa a Semana da Igualdade e um estudo sobre a situação atual da mulher no trabalho.
De acordo com o estudo, as mulheres portuguesas trabalham em cada dia útil mais uma hora e 13 minutos do que os homens, entre trabalho pago e não pago, continuando a ter maior dificuldade em conciliar a profissão com a vida familiar e pessoal.
Apesar da evolução dos últimos anos, ainda são maioritariamente as mulheres que interrompem a carreira para cuidar de filhos, que deixam de trabalhar para serem cuidadoras informais de familiares e que durante a pandemia ficaram em teletrabalho com filho a cargo.
O estudo salienta que as desigualdades relativamente às mulheres persistem, apesar de Portugal ser um dos países europeus com mais elevada taxa de participação feminina no mercado de trabalho, dado que a taxa de atividade das mulheres se situa nos 73%, acima da média europeia, que é de 68%, e próxima da taxa de atividade dos homens, que se situa nos 78%.
Segundo Fátima Messias, entre 2016 e 2020, sindicalizaram-se nos sindicatos da CGTP cerca de 80 mil trabalhadoras, o que representa cerca de 60% do total das novas sindicalizações deste período.
No mesmo período, do total de delegados sindicais eleitos, 65% eram mulheres, ou seja, 9.342 trabalhadoras.
A Comissão para a Igualdade da CGTP defendeu, no estudo elaborado, a necessidade de serem tomadas medidas efetivas e eficazes que permitam conciliação da vida profissional com a vida pessoal e familiar dos trabalhadores e que garantam a igualdade das mulheres.
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