"A moratória que me preocupa mais é a moratória do investimento. É o facto de, neste momento, termos (naturalmente e por razões óbvias) alguma dúvida sobre o devermos ou não devermos investir", admitiu António Ramalho durante a 9.ª Conferência "Portugal que faz", uma iniciativa do Novo Banco e do Global Media Group dedicada, nesta edição, à região do Alentejo.
Após uma primeira fase de "reestruturações" - que considera inevitável, porque "uma batalha como esta [a pandemia] vai deixar sempre feridos" -, o CEO do Novo Banco considera ser "fundamental voltar à fase de investimento" e saber fazê-lo numa "lógica compatível com todo o ambiente que existe".
"Ora, existe um ambiente potencial de alguma ajuda europeia consistente, que abriu extraordinárias expectativas, mas que está muito assente no investimento público. E isto é o que me preocupa mais, porque acho que o investimento público só é útil se for acompanhado por investimento privado e em Portugal isso significa também investimento estrangeiro", sustentou.
Para António Ramalho, "ter investimento público sem investimento privado em simultâneo é despesa e ter investimento privado sem a componente do investimento nacional e do investimento estrangeiro muito bem casadas é meramente utopia".
"E é fundamental que não tenhamos nem utopia, nem despesa", defendeu.
Estando a intervir durante uma conferência dedicada à região do Alentejo, o presidente executivo do Novo Banco gracejou ser preciso "criar um novo verbo": O de 'alquevar' o país.
Isto porque, explicou, "o Alqueva foi isto mesmo: o sucesso do investimento público, que trouxe investimento privado para onde não se esperava que este viesse, com uma alteração e uma transformação substantivas e que foi capaz de trazer para a agricultura investimento estrangeiro".
"Este 'alquevar' é aquilo que nós precisamos. Os fundos europeus que virão, junto com os do Portugal 2020, têm de ser muito bem estruturados", disse.
Sustentando tratar-se de uma "oportunidade que -- "pelo menos na minha geração", previu - vai ser a última", António Ramalho salientou que "a Europa vai assumir uma responsabilidade direta pelo financiamento, e a fundo perdido, que não voltará a repetir se os resultados não forem bons".
"É a nossa última oportunidade para apanharmos o nosso comboio e para encontrarmos as nossas vantagens competitivas", rematou.
Leia Também: "É preciso sair tão bem das moratórias como se entrou"