"Se o trabalho de desenvolvimento de 'upstream' no bloco 'offshore' conhecido como Área 1 não puder ser concluído, a Total terá dificuldade em prosseguir com seu projeto Mozambique LNG, e a Eni e a ExxonMobil terão dificuldade em seguir o exemplo com os seus próprios projetos South Coral LNG e Rovuma LNG", escreveu NJ Ayuk numa nota enviada à Lusa, na qual salienta que este é um perigo real.
"Esta é uma ameaça real, visto que a Total teve de suspender os trabalhos e evacuar os trabalhadores do estaleiro em janeiro, após uma série de ataques perto de Palma em dezembro", acrescenta o presidente desta organização empresarial destinada a promover os investimentos estrangeiros em África, nomeadamente no setor energético.
Para NJ Ayuk, que visitou Cabo Delgado com a ajuda do Presidente de Moçambique, que lhe proporcionou "acesso total e sem restrições à região", a ameaça "não é apenas no setor do gás, não se trata apenas de dinheiro, segurança, poder ou integridade territorial, é também sobre pessoas, seres humanos", e daí a defesa de ajuda internacional.
A ajuda dos Estados Unidos e de Portugal do ponto de vista militar "não vai ser suficiente" e por isso "Moçambique precisa de mais apoio do que está atualmente a receber e precisará do apoio contínuo da comunidade internacional - não apenas em resposta aos ataques mais recentes, mas por um longo período".
Sem esse apoio, o grupo terrorista "continuará a causar estragos e a forçar as pessoas a abandonarem as suas casas, tornando o terrorismo na maior causa da pobreza em Moçambique", afirma NJ Ayuk, concluindo que "se não houver ajuda suficiente - e se projetos de grande escala como o Mozambique LNG deixarem de ser uma opção para criar empregos e fazer crescer a economia - o país irá afundar-se ainda mais no desespero, o povo de Cabo Delgado sentir-se-á ainda mais marginalizado, e o meio ambiente do país continuará a sofrer danos e não haverá ninguém disponível para ajudar".
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, é desde há cerca de três anos alvo de ataques terroristas e o último aconteceu no passado dia 24, em Palma, em que dezenas de civis foram mortos, segundo o Ministério da Defesa moçambicano.
A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados, segundo agências da ONU, e mais de duas mil mortes, segundo uma contabilidade feita pela Lusa.
O movimento terrorista Estado Islâmico reivindicou na segunda-feira o controlo da vila de Palma, junto à fronteira com a Tanzânia.
Vários países têm oferecido apoio militar no terreno a Maputo para combater estes insurgentes, cujas ações já foram reivindicadas pelo autoproclamado Estado Islâmico, mas, até ao momento, ainda não existiu abertura para isso, embora haja relatos e testemunhos que apontam para a existência de empresas de segurança e de mercenários na zona.
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