Um relatório agora divulgado, assinado por Inês Tavares, Ana Filipa Cândido, Jorge Caleiras e Renato Miguel do Carmo, analisou o mercado de trabalho em Portugal continental durante o ano de 2020, com base em dados do Instituto do Emprego e da Formação Profissional.
A primeira grande constatação do estudo 'Desemprego em 2020 - Impactos da Pandemia, Mapeamentos e Reflexões' foi "a inversão da trajetória de descida sustentada do desemprego que vinha acontecendo desde 2012".
Com efeito, o desemprego registado baixou regularmente de 710.652 pessoas em 2012, para 297.931 em janeiro de 2020.
Mas um "repentino recrudescimento, mais notório a partir de abril de 2020, inverteu esta tendência" e colocou o total de desempregados registados em 375.150 no último mês do ano.
Os designados "desempregados imediatos", que não beneficiaram do 'layoff' simplificado, entre outras medidas indiretas de apoio ao emprego, foram sobretudo "trabalhadores mais precários, informais, trabalhadores independentes, falsos recibos verdes, em suma, trabalhadores vulneráveis, com vínculos contratuais frágeis ou simplesmente inexistentes, aos quais se juntaram os que estavam em período experimental e não continuaram".
Mas depois do acentuado crescimento inicial o número de desempregados manteve-se "contido/atenuado", o que foi atribuído pelos investigadores, entre outras razões, à 'reabertura'/desconfinamentos e aos apoios diretos e indiretos ao emprego.
Das várias características da população considerada, o Observatório apontou que "entre os grupos profissionais que estão a crescer mais e a ganhar peso relativo no total de desempregados encontram-se os trabalhadores não qualificados, os dos serviços pessoais, de proteção, segurança e vendedores, o pessoal administrativo, os especialistas das atividades intelectuais e científicas e os trabalhadores qualificados da indústria, construção e artífices".
Por outro lado, em termos de setores, "a larga maioria dos desempregados proveio de atividades dos serviços e só depois, muito abaixo, da indústria (...) e, mais abaixo ainda, do setor primário"
'Afunilando' a análise, focando na atividade económica concreta, os investigadores verificaram que "os desempregados são provenientes sobretudo do alojamento, restauração e similares; transportes e armazenagem; indústria do couro e dos produtos do couro; atividades imobiliárias, administrativas e dos serviços de apoio; fabrico de veículos automóveis, componentes e outro equipamento de transporte; e indústria do vestuário".
Depois de afirmarem que "o setor do turismo continua a ser largamente penalizado pela pandemia", os investigadores salientaram que "no caso da região do Algarve, o fenómeno é ainda mais expressivo".
Avançaram mesmo que no Algarve "a pandemia está a ter um impacto absolutamente desproporcional, explicado em grande medida pelo facto de a região ser muito dependente da atividade turística, com particular destaque para o concelho de Albufeira".
Salientaram ainda que "os números do desemprego registado são inéditos" e que "o Algarve é a região do país com maior aumento do desemprego em termos homólogos, seguida, muito à distância, da Área Metropolitana de Lisboa" (AML).
Por fim, a comparação homóloga que os autores fizeram entre maio de 2020 e 2019 indica que o 'disparo' do desemprego tem o seu maior impacto no Algarve, em particular em Albufeira.
Quando observaram as mesmas variações entre dezembro de 2020 e 2019 apuraram, com base no mapa por concelhos, o alastramento do problema: o "maior impacto" é sofrido por Algarve, AML e Região Oeste, um "impacto significativo" verifica-se em alguns municípios da AML, do Algarve e do Interior e um "menor impacto" ocorreu em municípios do Interior, sobretudo a Norte.
O Observatório das Desigualdades é uma estrutura independente, constituída no quadro do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa, que tem por instituições parceiras o Instituto de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e o Centro de Estudos Sociais da Universidade dos Açores.
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