China lança mercado de carbono entre ambições e resistências
A China lançou oficialmente o seu 'mercado de carbono', um instrumento contra as alterações climáticas para ajudar à redução das emissões de gases com efeito de estufa do país, principal emissor mundial destes poluentes.
© Reuters
Economia Clima
Concretamente, o novo mercado mundial chinês de carbono, que começou a funcionar na sexta-feira, vai obrigar milhares de empresas do país a reduzir as suas emissões poluentes, sob pena de penalizações económicas.
Este sistema vai fixar pela primeira vez limites de emissões para as empresas. Se estas forem incapazes de respeitar as suas quotas, vão ter de comprar "direitos de poluição" a outras empresas com uma pegada carbónica mais fraca.
Contudo, as interrogações persistem quanto à amplitude (reduzida em relação ao projeto inicial) e à eficácia do sistema, com um preço baixo atribuído à poluição.
A China menciona a ideia de um mercado de carbono desde há uma década. Mas os progressos têm sido travados pelos industriais do carvão e por políticas públicas favorecedoras de um crescimento económico rápido em detrimento do ambiente.
O sistema vai cobrir inicialmente 2.162 produtores de eletricidade chineses, anunciou na sexta-feira Huang Runqiu, o ministro do ambiente chinês.
Segundo a Agência Internacional de Energia, estas empresas representam cerca de um sétimo das emissões mundiais de carbono devido à combustão de energias fósseis.
O banco norte-americano Citigroup estimou que 800 milhões de dólares de "direitos de poluição" devem ser comprados este ano na China, após o que devem subir até aos 25 mil milhões de dólares até 2030.
O mercado de carbono chinês deverá então representar um valor comercial equivalente a um terço do da União Europeia, que é o mais importante.
Consciente dos riscos ambientais e sociais colocados pelo aquecimento global, o país asiático, o maior investidor nas energias limpas, posiciona-se para ser um dos líderes planetários no problema do clima.
A China, que se comprometeu a atingir o pico das suas emissões de carbono até 2030, e a "neutralidade carbónica" até 2060, deve assim ser um ator principal da cimeira da Organização das Nações Unidas sobre o clima, em novembro, em Glasgow.
Segundo a agência noticiosa Nova China, o novo regime chinês de trocas de quotas de emissões já é considerado "o maior do mundo", em termos de quantidade de emissões cobertas.
Mas o dispositivo criado por Pequim deve ter um campo maior de aplicação, cobrindo sete setores, incluindo aviação e petroquímica.
Mas o governo "reviu as suas ambições em baixa", com o crescimento económico a ser considerado prioritário no contexto de relançamento pós-covid, apontou Lauri Myllyvirta, analista do Centro de Investigação sobre Energia e Ar Puro (CREA).
Outa preocupação, apontada pelos ecologistas, é a do fraco preço da poluição.
A primeira transação fixava na manhã de sexta-feira o preço da tonelada de carbono em 52,7 iuans (oito dólares).
E o preço médio não deve passar dos 4,60 dólares este ano na China, bem abaixo dos 49,40 dólares na União Europeia, segundo uma nota do banco chinês Citic Securities.
Segundo a organização britânica TransitionZero, a distribuição de licenças de poluição gratuitas e a imposição de multas modestas em caso de desrespeito das regras vão manter os preços em níveis baixos.
Em suma, se a política ambiental da China parece começar a alinhar-se com os seus objetivos climáticos, "anda tem um longo caminho a percorrer", estimou Zhang Jianyu, da associação ambientalista norte-americana Environmental Defense Fund.
Mas Pequm já disse que o seu mercado de carbono está nos primeiros passos.
O programa vai ser estendido aos produtores de cimento e fabricantes de alumínio a partir do próximo ano, indicou Zhang Xiliang, o autor do novo sistema.
"O objetivo é cobrir até 10 mil empresas emissoras, responsáveis por cerca de cinco mil milhões de toneladas de emissões de carbono por ano", sublinhou.
Outros fatores podem atrasar os avanços, como a falta de conhecimentos técnicos ou a pressão dos poderosos grupos de interesse do carvão e do aço.
As províncias cujo crescimento depende do carvão e das indústrias muito 'carbonizadas' levantam obstáculos, notou Huw Slater, da organização China Carbon Forum (CCF).
"Os dirigentes políticos (locais) receiam que se reduzirem a poluição muito depressa, isso pode levar a supressão de empregos e portanto a instabilidade social", contrapôs Slater.
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