Hotel de 'lata' transforma imagem de pobreza em turismo em São Vicente

O hotel Casa Tambor Cabo Verde transformou uma imagem de pobreza para muitas famílias da ilha de São Vicente num negócio sofisticado e atrativo, combinando o conceito de casas não clássicas, em bairros de lata, com turismo ecológico.

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© Getty Images

Lusa
06/09/2021 09:28 ‧ 06/09/2021 por Lusa

Economia

Cabo Verde

"O que atrai os hospedes é a calmaria e a simplicidade. Percebem que há muitas coisas que poderiam ser reaproveitadas no dia-a-dia", explica à Lusa Elisabete Rodrigues, gestora do hotel, instalado em Ribeira de Vinha, São Vicente, desde 2019.

Dois dos cinco quartos do pequeno hotel dão nome ao empreendimento por estarem forrados a chapa ou tambor, à semelhança das casas dos bairros informais naquela ilha - à base das chapas de tambores, madeira, algumas pedras e normalmente uma base de cimento -, mas garantem o conforto necessário aos hóspedes.

"Ainda não decidimos se iremos forrar os outros quartos, mas a ideia é construir mais quartos para termos pelo menos todas as ilhas de Cabo Verde representadas, já que cada quarto leva o nome de uma ilha", acrescenta.

O espaço conta ainda com uma horta onde cultivam produtos utilizados na preparação das refeições do hotel. "Se alguém quiser ajudar a cuidar da horta ou plantar uma arvore, terá toda autonomia para isso", refere.

Apesar de o exterior aparentar casas humildes, no interior o cenário é diferente, com estruturas normais e cómodas. Ainda tem o restaurante, em torno de contentores, um parque com cadeiras e mesas feitas com materiais reciclados e piscina.

O espaço fez parte de um 'reality show' holandês, filmado em São Vicente, em que as três famílias que participaram teriam a tarefa de implementar um negócio. Quando o grupo partiu, Elisabete Fortes e o marido compraram o empreendimento, em 2019.

"Gostei muito do espaço logo que conheci e mudei a minha vida toda para poder morar na Ribeira de Vinha. Aqui não ligo muito para a televisão e nem Internet e trabalho muito na terra", assegura a jovem, de 33 anos.

Apesar do desafio que tem sido atrair hóspedes em período de pandemia, a gestora garante que tem servido para quebrar tabus acerca de casas de "bidão".

O cenário de informalidade, com bairros de casas de chapa, é visível em alguns pontos daquela ilha, a segunda mais importante de Cabo Verde e considerada a capital cultural do arquipélago, mas foi também confirmado pelos dados preliminares do quinto Recenseamento Geral da População e Habitação (RGPH-2021), realizado em julho pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) de Cabo Verde.

É que dos 23.976 edifícios recenseados na ilha de São Vicente, apenas 68,5% estão concluídos, o terceiro pior registo dos 22 concelhos (nove ilhas habitadas). E desse total, 7,3% são considerados como edifícios "não clássicos", que o INE descreve como barracas ou casas de bidão, a percentagem mais elevada do país e que corresponderá a 1.750 desses edifícios só em São Vicente, mais de metade das 2.977 que o INE contabilizou em Cabo Verde (crescimento de 85,7% face a 2010).

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