Empresas de transportes da região Centro apreensivas com o futuro

Responsáveis de empresas de transportes da região Centro estão apreensivos com o futuro devido ao aumento do preço dos combustíveis, havendo aquelas que o estão a refletir para o mercado e outras que temem perder clientes se o fizerem.

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Lusa
24/10/2021 09:15 ‧ 24/10/2021 por Lusa

Economia

Crise dos combustíveis

 

Nelson Sousa, administrador da JLS -- Transportes Internacionais, de Viseu, disse à agência Lusa que, nos últimos dois meses, a empresa tem subido os preços dos serviços que presta, mas que se nota "claramente uma quebra na atividade".

"É a única forma. Pela fiscalidade já se viu que não vamos lá e o preço do combustível está a subir de uma forma generalizada não só em Portugal, mas pela Europa toda", explicou o responsável, acrescentando que se nota, "de uma forma bem evidente, a quebra da exportação".

Segundo Nelson Sousa, com o aumento do preço dos combustíveis, da energia e do AdBlue (líquido que reduz as emissões poluentes dos veículos a diesel), às empresas de transportes só resta "ajustar os custos de produção e as tabelas de venda".

"O setor já tinha dado sinais de fragilidade no passado, com rentabilidades muito baixas, porque vivemos num contexto competitivo muito agressivo. Quando estamos fragilizados, qualquer situação nos põe numa situação muito complicada", frisou o administrador da JLS, que tem cerca de 280 camiões.

Também a administração dos Transportes Central Pombalense, de Pombal, referiu que, "com este aumento dos combustíveis, outros custos seguiram esta tendência".

"O custo de produção do serviço de transporte (combustível, pneus, manutenção, entre outros) aumentou muito, esmagando as margens, que já se encontravam negativas (em agosto e setembro). Este clima de instabilidade acaba por se refletir também financeiramente na empresa, o que se torna incomportável", lamentou.

Se, em 2020, o combustível representava 25% na estrutura de custos da empresa (que tem 322 viaturas), atualmente, representa 33%: "Desde o início deste ano, para a nossa empresa, os combustíveis tiveram um aumento de 29%".

Segundo a administração, "para atenuar estes aumentos", a empresa conta "com a compreensão e colaboração dos clientes para aceitar os possíveis ajustes nos preços dos serviços".

"Tentar minimizar ao máximo custos diretos e indiretos na empresa, sem colocar em causa o bom funcionamento, cumprindo com os padrões que nos são reconhecidos no fornecimento dos serviços de transporte, capacidade de resposta, qualidade e segurança" é outra medida tomada, sendo que, "em última instância, a redução da frota existente" poderá vir a ser equacionada, acrescentou.

Artur Gaiola, da empresa de transportes com o mesmo nome, sediada na Covilhã, ainda não aumentou os preços aos clientes, apesar do impacto negativo que está a sentir.

"Ainda não estamos a aumentar os preços, mas, se o gasóleo não baixar, claro que vamos ter que mexer nas tabelas. O problema é que os clientes podem ir embora e depois passamos dificuldades", afirmou.

Segundo Artur Gaiola, a sua empresa - que trabalha no setor nacional, em articulação com os transitários -- tem atualmente "menos carga, faturação mais baixa e aumento de custos".

"Desde há dois meses que caiu um pouco a exportação e a importação", contou o responsável pela Artur Gaiola Transportes, que tem dez viaturas pesadas e 20 ligeiras.

João Medina, gerente da Rodomondego -- Transportes de Mercadorias admitiu à Lusa que esta situação lhe está a "tirar o sono".

"Estamos numa incerteza, sem saber o dia de amanhã e se conseguiremos levar as coisas para a frente. Tivemos a pandemia, estivemos quase dois meses em 'lay-off' parcial, depois o arranque foi complicado e chegámos ao fim do ano com uma quebra de faturação de mais de 200 mil euros", contou.

Com mais de 15 viaturas a circular no estrangeiro e uma dezena em Portugal, a empresa de Coimbra usa a estratégia de abastecer em Espanha, mas de pouco serve, porque "sofre-se o aumento atestando em Portugal ou atestando em Espanha".

"Já nem fazemos planeamento, só queríamos conseguir equilibrar as coisas e ir para a frente, mas isto está a ficar muito difícil. Se me perguntar se nos vamos aguentar muito mais tempo, não sei que resposta lhe dê", acrescentou.

Leia Também: "Governo devia intervir menos" no mercado dos combustíveis

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