De acordo com o relatório do Estudo de Impacte Ambiental do investimento, junto à vila de Palmeira, norte da ilha, em consulta pública e ao qual a Lusa teve hoje acesso, trata-se de um "projeto de desenvolvimento ambiental e humano que resgata uma área geográfica completamente árida e abandonada durante décadas".
O objetivo é transformar esta área "num fator de mudança de paradigma numa ilha onde o verde é raro, a agricultura é subalternizada e a oferta turística se acomoda à monocromia que advém de um sucesso enorme e crescente do turismo balnear", lê-se no documento.
Corresponde a um projeto de desenvolvimento agrícola e ambiental integrado, numa oferta turística, com uma área aproximadamente de 23 hectares, "com o objetivo de fazer a produção agrícola e pecuária associada ao turismo ambiental".
Acrescenta que "vão ser criados pelo menos 70 empregos diretos", a maioria para mulheres, e que a fase de construção, "que iniciará com a homologação do Estudo de Impacte Ambiental e o respetivo licenciamento", deverá decorrer durante um ano, até finais de 2022.
"A fase de exploração está prevista o seu início para os finais de 2022 e terá uma vida útil de pelo menos 50 anos", refere ainda o estudo em consulta pública até à próxima semana.
O projeto será implementado junto à Buracona, uma piscina natural nas rochas, de origem vulcânica, um dos locais mais procurados pelos turistas na ilha do Sal, o principal destino turístico de Cabo Verde.
"Tem como objetivo criar um produto da esfera da economia da experiência em que os turistas vivenciam, se emocionam e se envolvem em atividades pessoalmente relevantes e inesquecíveis nos domínios da agricultura, da pecuária e da proteção ambiental", referem ainda no relatório os promotores, da empresa Ecosalis Green, com sede em Santa Maria.
Explicam que a "ideia de criação de um espaço para a prática do agroturismo na ilha, vem de uma experiência que já está a ser desenvolvida numa pequena parcela agrícola de cerca de 1 hectare", a qual se tem "revelado bastante positiva, tanto a nível da agricultura orgânica, como também pelo interesse que vem despertando nos visitantes manifestando curiosidade em querer saber e participar as atividades aí desenvolvidas".
"Daí o interesse do promotor em transferir essa pequena experiência para uma escala maior de forma a poder satisfazer o interesse dos visitantes tanto nacionais como estrangeiros que procuram essa ilha para gozar de dias de lazer, oferecendo um produto diferenciado que foge da rotina e do quotidiano, e que ao mesmo tempo proporciona um serviço de alojamento, com atividades", refere o Estudo de Impacte Ambiental, embora sem clarificar quantas camas serão disponibilizadas ou o volume de investimento.
De todo o empreendimento, a área que será destinada à agricultura chega a 15.000 metros quadrados, permitindo converter um terreno sem utilização num "projeto agrícola, com recurso a tecnologias modernas", que deverá produzir 178 toneladas anuais de frutas e legumes, incluindo com várias estufas.
"Uma outra componente do projeto é a produção pecuária, que engloba a produção suinícola, caprinocultura, bovinocultura e avicultura, todos em pequena escala", assumem ainda os promotores.
Além de duas piscinas para uso turístico, o empreendimento engloba a implementação de um lago artificial com 300 metros quadrados, junto à zona agrícola, de modo a "criar um habitat para os pássaros que frequentam a ilha do Sal".
Para os promotores, que identificam reduzidos impactos do investimento, o projeto vai permitir "incorporar mais ativamente, sobretudo a nível do emprego, a comunidade de Palmeira na forte dinâmica de crescimento" da ilha do Sal, "recuperar o potencial e a tradição agrícolas" locais, que "sempre estiveram associados" à zona de Terra Boa.
Também "apoiar a extensão mais para norte dos roteiros turísticos da ilha" para "incluir de forma mais regular outros pontos de interesse", e não apenas o turismo de sol e praia no sul, além de permitir aos turistas "um contacto mais direto e genuíno com a natureza a agricultura e as tradições locais, através da hospedagem em ambiente rural" e "melhorar o abastecimento da ilha do Sal em produtos frescos e orgânicos".
Cabo Verde recebeu em 2019 um recorde de 819.308 turistas, 45,5% nos hotéis da ilha do Sal e 29,4% na Boa Vista, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística cabo-verdiano, num setor que representa 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do arquipélago, mas a procura caiu cerca de 70% em 2020, devido à pandemia de covid-19.
Aquelas duas ilhas concentram também a maioria das 284 unidades hoteleiras que funcionavam em Cabo Verde antes da pandemia, então com uma oferta oficial em todas as ilhas superior a 21 mil camas. No Sal, com 30 unidades hoteleiras, a oferta era de 9.571 camas, enquanto nas 24 unidades na Boa Vista a oferta ascendia a 6.395 camas.
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