A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) divulgou hoje um estudo sobre o impacto da covid-19 na economia do Norte em 2020 e a recuperação económica verificada já em 2021.
O estudo conclui que a "economia a Norte, tal como a de Portugal, terá observado a maior recessão económica do período democrático em resultado do impacto negativo da crise pandémica de 2020".
Raquel Meira, diretora de serviços de desenvolvimento regional da CCDR-N, disse que, apesar da maior recessão do Norte em 50 anos, o efeito ao nível do emprego foi "muito residual".
"Relativamente à população empregada - e aqui é que estão alguns dos efeitos que seriam menos expectáveis em momentos de crises económico financeiras -, na região Norte diminui apenas 0,2% em 2020, portanto menos 4.100 postos de trabalho", referiu, durante a conferência 'online' "O impacto da covid-19 na economia do Norte - Que efeitos, respostas e transformações?", que decorreu a partir do Porto.
Neste contexto, Raquel Meira afirmou ser "inevitável falar dos apoios ao emprego como foram os regimes de 'lay-off', bem como o facto do Norte "ter uma economia muito mais diversificada e menos dependente do turismo".
O regime de 'lay-off' abrangeu mais de 325 mil trabalhadores do Norte em 2020.
Em consequência, a taxa de desemprego da região "aumentou de 6,7% para 6,8% entre 2019 e 2020".
Nas crises económicas anteriores, os indicadores do mercado de trabalho tiveram "uma evolução bastante pior".
Entre 2008 e 2013, que inclui a crise financeira internacional e a crise económica decorrente da implementação do programa de assistência financeira, a taxa de desemprego do Norte aumentou de 8,6% para 17,1%, num período no qual a queda acumulada do PIB do Norte foi de 7,9%, um valor próximo da redução esperada para 2020.
De acordo com o estudo, apesar da intervenção pública ter mitigado o desemprego e reduzido as falências, a crise pandémica provocou assimetrias importantes ao nível da dinâmica dos setores de atividade que compõem a economia do Norte, com consequências positivas associadas à transição digital e ao crescimento de alguns setores, mas também com consequências negativas ligadas ao declínio de algumas atividades e ao risco do desemprego cíclico convergir para um desemprego estrutural e de longa duração.
Segundo Raquel Meira, os ramos da fileira do turismo do Norte foram dos mais atingidos.
As dormidas e os hóspedes diminuíram perto de 60% em 2020, sendo que as horas trabalhadas no ramo do alojamento, restauração e similares caíram 27,3% durante a mesma altura.
Devido à intervenção pública, através do regime 'lay-off', o emprego neste ramo baixou a um "ritmo bastante inferior (6,6%), mas ainda assim foram eliminados, em termos líquidos, 4.900 postos de trabalho".
Outras atividades económicas afetadas foram as indústrias transformadoras e, apesar da intervenção pública ter atenuado a queda do emprego e a subida do desemprego, "não foi capaz de evitar a destruição de cerca de 14.350 postos de trabalho, em termos líquidos, em 2020".
Trajetória positiva tiveram alguns ramos de atividade do setor terciário, como os ligados à informação e comunicação que, em conjunto com as atividades financeiras e de seguros, de consultoria, científicas e técnicas, etc., criaram, em "termos líquidos, 29.625 postos de trabalho em 2020, no Norte".
Raquel Meira disse ainda que a "crise induziu um aumento enorme da população com maior nível de escolaridade", ou seja, acelerou a procura de recursos humanos com ensino superior, para os "praticamente de 8%".
Ao nível do comércio internacional, os dados revelam que durante a crise pandémica de 2020 as exportações do Norte observaram "uma redução de 10,1% num contexto global de interrupção das cadeias de valor internacionais".
Em termos comparativos, no entanto, "esta redução foi significativamente menor do que a observada durante a crise financeira global de 2009, na qual as exportações do Norte diminuíram em 18,3%".
De acordo com o estudo, 2021 marca já uma "recuperação" da economia do Norte face a 2020", nomeadamente a nível do emprego e das exportações.
A população empregada no terceiro trimestre de 2021 é superior ao observado no período anterior à crise sanitária, em quase 70 mil pessoas, isto é, mais 4,2%, e o valor das exportações no terceiro trimestre de 2021 já é superior em 3% ao do terceiro trimestre de 2019.
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