Segundo a entidade sul-africana, o Censos deste ano, que deverá durar um mês, assinalará a quarta contagem (1996, 2001 e 2011) populacional que o Governo do Congresso Nacional Africano (ANC) realiza desde que assumiu o poder nas primeiras eleições democráticas e multirraciais em 1994, estimando em 60,14 milhões o número de habitantes no país.
Na África do Sul pós-apartheid, o combate ao legado da pobreza e do subdesenvolvimento foi uma das prioridades políticas do ANC no Plano de Reconstrução e Desenvolvimento (PDR) em 1994, reiterado depois no Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) em 2011.
Durante mais de duas décadas, a África do Sul procurou combater a pobreza e a desigualdade social através de políticas fiscais de apoio a medidas de redistribuição entre o eleitorado do ANC de maioria negra.
"Os níveis de pobreza aumentaram entre 2011 e 2015. Esta experiência é um lembrete da realidade que os desafios socioeconómicos do país são profundos, estruturais e de longo prazo", considerou a ministra na presidência Nkosazana Dlamini-Zuma num estudo divulgado em março de 2018.
"Os dados da despesa de consumo indicam que a África do Sul é um dos países mais desiguais do mundo, e que a desigualdade aumentou desde o fim do [regime] 'apartheid' em 1994", apontou o relatório.
Todavia, no último Censos, em 2011, os "excluídos" passaram "despercebidos" aos olhos das autoridades sul-africanas, pese embora também o crescimento exponencial da população residente no país, que tem sido visivelmente gritante nas grandes cidades.
O número de habitantes no país aumentou de 40,6 milhões em 1996 para 51,7 milhões em 2011 e 55,6 milhões em 2016, segundo o Governo sul-africano.
Numa estimativa divulgada em 2016, o Stats Sa estimou que cerca de 13,6% da população sul-africana vive em "condições informais".
"Eles [o ANC] não poderão continuar a mentir, somos muitos", considerou Masechaba Thebe, de 33 anos, que, tal como dezenas de milhares de sul-africanos e imigrantes africanos, vive nas ruas da capital económica Joanesburgo, que hoje alberga mais de 5 milhões de pessoas.
A Egoli, a terra do ouro, como esta cidade industrial mineira é também conhecida localmente, continuam a chegar milhares de imigrantes estrangeiros, nomeadamente de Moçambique, Nigéria, Somália e Paquistão, por acreditarem que na África do Sul "há dinheiro".
Mas tudo o que o moçambicano Tony Lissaga, de 48 anos, consegue tirar informalmente como mecânico não chega a 40 euros semanais, o que nem sequer lhe dá para o aluguer de um quarto.
O recenseamento geral da população que hoje teve início na África do Sul, vai incluir os estrangeiros, os sem-abrigo e os alojamentos comunitários informais, segundo a autoridade estatística nacional.
Este ano, o Censos será a primeira contagem digital da população residente na África do Sul, permitindo que as pessoas participem sem a ajuda de um pesquisador de campo do censo, adiantou.
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