"Há um fenómeno que não é um fenómeno imediato, mas que já se começa a notar, e esse sim, é de enorme procupação, é que o aumento do combustível tem um enorme impacto no preço da indústria do peixe, da captura", disse à Lusa o presidente da ANICP, José Maria Freitas.
Segundo exemplificou o responsável do setor, a subida do preço dos combustíveis "começou a originar também uma subida enorme no preço das matérias-primas, fundamentalmente no atum, onde as subidas têm sido impressionantes".
"O atum, nos últmos dois meses, no mercado internacional, para dar uma ideia, em lombos passaram de um preço de 4,5 para 5,8 euros, subiu um euro e 30, é para aí 30% ou 40%", elencou José Maria Freitas.
O responsável considerou adicionalmente que se gera "um primeiro momento que tem alguma especulação metida no meio e depois é preciso tempo para que o ajustamento seja feito no que é a subida adequada e real, e isso ainda é cedo".
"No atum, ainda estamos na fase de subida, ainda não parou a subida", pelo que o melhor, para já, é "deixar que o mercado funcione, para saber exatamente qual é o impacto real do aumento de custos da pesca no aumento da matéria-prima".
Ao preço dos combustíveis e do peixe soma-se o já conhecido aumento imediato nos preços do óleo de girassol, matéria-prima importada da Rússia e da Ucrânia.
"Sendo o óleo transformado pela indústria conserveira, e 50% proveniente da Rússia e da Ucrânia, que era o maior fabricante mundial de girassol, o impacto foi imediato, porque havia uma série de navios a carregar com destino para a refinação. Não vieram e isso originou uma subida impressionante, duplicou o preço", ilustrou José Maria Freitas.
Admitindo que "é impossível normalizar um mercado com a matéria-prima a deixar de ter 50% da sua produção", o presidente da ANICP referiu que a informação que tem vinda dos mercados de futuros é que, "a verificar-se algum ajustamento", virá só a partir de julho.
"Por arrastamento, também levou o azeite, porque claro, havendo um aumento de pressão sobre o óleo, o arrastamento do preço do azeite acontece, mas o ajustamento do azeite começa-se a fazer já muito lentamente", disse ainda.
Já relativamente ao alumínio utilizado para as latas de conserva, José Maria Freitas antecipou a possibilidade de aumentos de preços "no segundo semestre", porque "neste primeiro semestre as fábricas tinham, de facto, o alumínio necessário para as suas produções".
Os preços ao consumidor "já aumentaram", e com os aumentos no preço do atum, e possivelmente nas latas, estando já consumada a do óleo, "as subidas terão que ser ainda mais significativas".
Recordando o passado, o dirigente associativo lembrou que o setor já teve "experiências similares" de aumentos nos fatores de produção e de preços ao consumidor em geral, por exemplo quando houve "uma subida exponencial do azeite, que originou uma quebra enorme".
"O passado diz-nos que estas subidas originam quebras no consumo, e um reajustamento no equilíbrio da oferta e da procura, e depois uma tendência de descida dos preços. Essa é a história e eu acredito, sinceramente, que é o que vai acontecer. A questão aqui é saber quando", disse.
Apesar das dificuldades antecipadas, o presidente da ANICP revelou que em março "o incremento de vendas foi muito significativo" no setor da indústria conserveira, porventura associado à "segurança alimentar" pretendida pelos consumidores em contexto de guerra.
"Nós pensávamos que podia ser prudência da grande distribuição, exclusiva para terem um 'stock' para qualquer eventualidade, mas a informação que temos é que parte dele são vendas reais", explicou.
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