Política de 'zero casos' deve levar a queda do investimento na China

O Investimento Direto Estrangeiro (IDE) na China deve cair, nos próximos anos, à medida que o país insiste na estratégia de 'zero casos' de covid-19, previu a unidade de análise da revista The Economist.

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© Reuters

Lusa
13/07/2022 11:03 ‧ 13/07/2022 por Lusa

Economia

The Economist

A Economist Intelligence Unit (EIU) descartou, no entanto, um êxodo corporativo em massa do país, face à atratividade exercida pelo vasto mercado local e importância da China nas cadeias globais produtivas.

"Mesmo que não abandonem o mercado chinês, esperamos que os investidores estrangeiros cada vez mais vejam o Sudeste Asiático, onde os governos adotaram uma estratégia de 'coexistência com o vírus', como opção atrativa para investimentos futuros", lê-se no relatório difundido hoje pela EIU.

As autoridades chinesas estão a impor medidas de confinamento extremas, para salvaguardar a estratégia de 'zero casos' de covid-19, assumida como um triunfo político pelo secretário-geral do Partido Comunista Chinês, Xi Jinping.

O isolamento de Xangai, a "capital" financeira do país, e de importantes cidades industriais como Changchun e Cantão, tiveram forte impacto nos setores serviços, manufatureiro e logístico, no primeiro semestre do ano.

A unidade de análise da The Economist considerou que a estratégia constitui um dos "maiores desafios" que os investidores estrangeiros enfrentaram no país, na história recente.

Isto é agravado pelas crescentes tensões geopolíticas entre China e Estados Unidos, que resultaram já numa prolongada guerra comercial e por supremacia tecnológica, que desde 2018 obrigou as corporações a alargarem as cadeias de abastecimento para mercados alternativos.

"Essa estratégia parece agora ainda mais atraente, pois, ao contrário da China, o resto do mundo adota políticas mais previsíveis para lidar com a covid-19", descreveu a EIU.

No entanto, o relatório lembrou que o país asiático desempenha um papel chave no fornecimento de componentes que não estão disponíveis noutros países, e uma infraestrutura logística "inexistente", no resto da Ásia ou em outros lugares, "em dimensão e sofisticação".

O forte crescimento da classe média do país, na última década, encorajou também as empresas a adotarem o modelo "na China, para a China", que consiste em produzir e vender localmente.

"O nível de imersão das empresas na China - com planos plurianuais que dependem do país como motor de crescimento futuro, - torna difícil que se afastem dessa estratégia no curto prazo", apontou o relatório.

A EIU previu que o IDE recue a partir de 2022, em comparação com os dois anos anteriores, com o efeito a prolongar-se até 2024.

A manutenção da estratégia 'zero covid' vai ter maior impacto no IDE nos setores voltados para o consumo doméstico, face aos choques desproporcionais no retalho, infligidos por bloqueios repentinos e outras restrições ao movimento de pessoas, apontou.

A tolerância zero à covid-19 implica também o encerramento praticamente total das fronteiras da China. O país autoriza apenas um voo por cidade e por companhia aérea, o que reduziu o número de ligações aéreas internacionais para o país em 98%, face ao período pré-pandemia. Quem chega à China tem que cumprir uma quarentena de dez dias.

Isto dificulta a atração de talentos globais e frustra futuros planos de investimento, já que os quadros das empresas estrangeiras não conseguem supervisionar o lançamento ou o alargamento de projetos, destacou a EIU.

A guerra comercial China - EUA e os custos mais baixos com mão-de-obra há muito que posicionaram países como o Vietname, Malásia ou Tailândia como centros alternativos para o fabrico de componentes e montagem de produtos.

Gigantes tecnológicos como a Apple e Samsung transferiram, nos últimos anos, partes das suas cadeias de fornecimento para o Vietname.

Leia Também: Comércio externo da China cresce 9,4% no primeiro semestre de 2022

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