Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente e da Ação Climática, disse, esta quinta-feira, que a proposta apresentada pela Comissão Europeia - que propõe um corte de 15% no consumo de gás, a partir de agosto - "não serve os interesses de Portugal" e que, por isso, o país "não aceita a proposta como ela está" neste momento.

Isto por duas razões, tal como explicou o governante em declarações à comunicação social. Em primeiro lugar, porque "Portugal, devido à seca, produz menos energia hídrica, o que obriga a produzir mais energia por via do gás". Até porque houve uma "redução de quase 50% face ao ano passado" na produção de energia hídrica no país, sustentou o ministro.

"Este ano, que é um ano de seca, nós tivemos uma redução de produção de energia hídrica acima do normal e uma maior dependência de gás. Isto não foi tido em consideração na proposta" da Comissão Europeia, acusou o governante.

Mas é ainda necessário ter em consideração as "fracas interligações" que o país tem com os outros países europeus, o que levaria a que um "corte de gás em Portugal" não resultasse "imediatamente" na disponibilização desse combustível "para mais nenhum país, como acontece no norte da Europa".

Como sustentou Duarte Cordeiro, esta é uma "posição" que não surge, portanto, por "falta de solidariedade" para com outros países europeus mais dependentes do gás russo, embora o ministro responsável pela pasta do Ambiente se veja obrigado a "rejeitar a proposta se ela for apresentada nestes termos".

Neste momento, o país está a levar a cabo um "processo normal de discussão" com a Comissão Europeia a propósito deste tema, disse ainda Duarte Cordeiro. O governante defendeu assim que as entidades europeias devem ter em conta as "especificidades regionais" nas propostas apresentadas neste âmbito.

"Não estamos sozinhos neste debate, partilhamos as mesmas perspetivas que outros países, nomeadamente Espanha, e estamos a fazer um caminho de debate com a União Europeia"

Questionado sobre os efeitos práticos que uma medida desta natureza teria sobre os consumidores portugueses, o ministro do Ambiente e da Ação Climática considerou que "é prematuro estarmos a ter esta discussão".

Como fez questão de salientar, em causa está uma proposta que prevê um "corte de 15% [no consumo de gás] de forma voluntária, em certas circunstâncias, e um corte de 15% de forma obrigatória", noutros casos. Posto isto, Duarte Cordeiro pede que a Comissão Europeia efetue uma "diminuição [da percentagem] deste corte, tendo em conta aquilo que são as especificidades de alguns países".

A proposta terá ainda de ser debatida no seio das instituições europeias, entre os vários Estados-membros. O ministro defendeu até, em declarações aos jornalistas, que este tema deveria "necessariamente passar por uma discussão no Conselho" Europeu.

[Notícia atualizada às 18h41]

Leia Também: Alemanha apoia proposta de Bruxelas para cortar em 15% o consumo de gás