"A empresa reafirma que o capital humano é o seu bem maior e que tudo está sendo feito para normalizar a situação do pagamento do salário de julho de 2022. A empresa, à semelhança de muitas outras empresas de aviação, foi duramente fustigada pela pandemia de covid-19, tendo registado perdas colossais", refere em comunicado a companhia, renacionalizada em julho de 2021.
A posição surge após um ofício do Sindicato Nacional dos Pilotos da Aviação Civil (SNPAC), dirigido a várias entidades e à administração da TACV ter sido divulgado publicamente, na qual é colocada em causa as condições de segurança em que companhia opera e os atrasos nos pagamentos dos salários, entre outros alertas.
No comunicado, a administração da TACV refere que "retomou as operações de forma cautelosa e tímida para garantir que seja segura e continua", inicialmente com voos apenas entre Praia e Lisboa, desde o final de dezembro, após uma paragem de toda a atividade que se verificava desde o início da pandemia de covid-19, em março de 2020. Com apenas uma aeronave, os voos foram alargados já este ano das ilhas de São Vicente e do Sal para a capital portuguesa.
"A dimensão da retoma, com apenas uma aeronave e somente voos para Lisboa, não gera receitas suficientes para honrar todos os compromissos, nomeadamente, os da operação corrente, dívidas acumuladas do passado, reembolso dos passageiros e os salários. Todavia, há que começar. Todos os pagamentos, inclusive os referentes à operação, têm sido feitos com atrasos, mas esta realidade não é um exclusivo da TACV", reconhece a administração.
Acrescenta que o "suporte financeiro do acionista Estado tem sido imprescindível para garantir a continuidade da empresa" e realça que a companhia "tem procurado cumprir com os regulamentos das autoridades aeronáuticas e a legislação laboral em vigor".
"São os trabalhadores que representam a empresa e é com eles que vamos restabelecer a imagem e a confiança na companhia. A postura de todos os envolvidos ditará o sucesso da empresa", lê-se ainda.
A nota refere também que a companhia, que já anunciou para este ano a intenção de retomar as ligações a Boston e incluir uma segunda aeronave na frota, apresentou um Plano de Retoma e Estabilização 2022-2023 em dezembro passado, que foi aprovado pela assembleia-geral.
"O plano deverá ser financiado com recurso a várias fontes de financiamento. Decorrente das alterações do mercado, o plano foi atualizado em junho de 2022. Tendo sido apresentado a todos os representantes sindicais da empresa, inclusive o sindicato dos pilotos. A recuperação da confiança na companhia de bandeira só é possível com o envolvimento dos seus trabalhadores, com a colaboração e ajuda de todos os cabo-verdianos", salienta.
A companhia ficou temporariamente impedida de voar para a Europa em julho último, por não ter renovado um certificado, situação entretanto normalizada, e viu na mesma altura o Governo anunciar um acordo extrajudicial com os islandeses da Icelandair, que lideraram a TACV entre março de 2019 e julho de 2021, devido ao processo que envolveu a sua renacionalização.
"Uma das principais preocupações da empresa foi criar condições para uma operação segura, que passa obrigatoriamente pela formação e avaliação de todo o 'staff' da empresa. A aeronave Boeing 737-700, matrícula D4-CCI [alugado à angolana TAAG desde março], entrou na frota da TACV a 8 de maio de 2022. Antes da sua entrada na frota, a aeronave recebeu trabalhos de manutenção com recurso a componentes e peças que faziam parte do 'stock' existente e outras adquiridas para o efeito", esclarece ainda a administração.
Em julho, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estimou que a companhia vai precisar de 30 milhões de euros do Estado até 2023.
Em março de 2019, o Estado de Cabo Verde vendeu 51% da TACV por 1,3 milhões de euros à Lofleidir Cabo Verde, empresa detida em 70% pela Loftleidir Icelandic EHF (grupo Icelandair, que ficou com 36% da Cabo Verde Airlines -- nome comercial da companhia) e em 30% por empresários islandeses com experiência no setor da aviação (que assumiram os restantes 15% da quota de 51% privatizada).
Entretanto, na sequência da paralisação da companhia durante a pandemia de covid-19, o Estado cabo-verdiano assumiu em 06 de julho de 2021 a posição de 51% na TACV, alegando vários incumprimentos na gestão, e dissolveu de imediato os corpos sociais.
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