Em declarações à Lusa, Nuno Cabrita Alves classificou a situação do Banco Alimentar do Algarve como "preocupante", alertando para o crescimento no número de pedidos de apoio por parte de instituições que viram a sua capacidade de resposta esgotada e recorrem ao Banco Alimentar para continuar a apoiar utentes.
O número de pedidos de apoio individual também está a aumentar, estando neste momento a ser apoiadas cerca de 27.000 pessoas (5.000 das quais através de um Programa Alimentar Europeu) - e é "expectável" que continue a crescer à medida que o turismo no Algarve entre na época baixa e mais pessoas fiquem sem trabalho, acrescentou.
Simultaneamente, a crise energética e o preço dos combustíveis está a impedir o Banco Alimentar de contratar ou fazer transporte de mercadorias, diminuindo a sua capacidade diária de recolha de alimentos e tornando os cabazes alimentares "menos completos", alertou Nuno Cabrita Alves.
"Neste momento acho que estamos a caminhar para a tempestade perfeita", advertiu o presidente da instituição, alertando para a situação "preocupante" que se avizinha.
"No último ano, a quantidade de instituições que tem estado a aderir ao Banco Alimentar tem sido crescente", referiu, acrescentado que são atualmente 136, aumento motivado por "anos de exigência de resposta" que as deixou sem recursos próprios, perante apoios do Estado que não foram "atualizados de forma conveniente" e "não são suficientes".
A este "primeiro sinal de preocupação" junta-se outro que, segundo Nuno Cabrita Alves, "tem a ver diretamente com as pessoas", depois de, nas últimas semanas, "ter começado novamente o pedido de ajuda por parte das famílias a chegar ao Banco Alimentar".
A mesma fonte espera que estes pedidos de apoio cresçam "ainda mais no final do atual mês de setembro e no princípio do mês de outubro, com o fim da atividade turística na região", que vê agora a época alta a terminar.
O "aumento do cabaz tem sido brutal" e os "custos com a alimentação têm sido enormes", enquanto "as respostas que têm sido dadas pelo Estado são meros paliativos e não respondem estruturalmente à questão colocada e ao desafio colocado a todos" com o agravamento da situação económica, considerou.
Nuno Cabrita Alves justificou o "declínio" na resposta com o aumento do combustíveis, que quantificou em mais de 300%, de 2020 para 2022, e com a paragem de carrinhas frigoríficas que "todos os dias saem para promover a recolha de alimentos em vários locais, incluindo supermercados".
"Das duas uma, ou continuamos a ter capacidade financeira para manter estes carros a funcionar ou então teremos de optar pelo corte deste serviço, e isso significa menos 800 toneladas por ano. E 800 toneladas são muito significativas para o trabalho que fazemos anualmente", exemplificou.
O presidente do Banco Alimentar do Algarve lamentou a falta de apoio por parte do Estado aos Bancos Alimentares no custo dos combustíveis e deu também o exemplo do transporte de mercadorias, que teve um impacto "no orçamento de 150% no último ano".
"Isto também faz com que, não tendo capacidade financeira, também não se contratem camiões para recuperar alimentos em determinado tipo de parceiros, e cada camião que não chega ao Algarve são menos 22 toneladas de produto que não há para distribuir", concluiu.
No último ano, o Banco Alimentar do Algarve distribuiu 3.800 de produtos alimentares na região.
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