"A incerteza não ajuda ao investimento", defende presidente da AICEP

O presidente da AICEP afirma, em entrevista à Lusa, que "a incerteza" da atual conjuntura económica "não ajuda ao investimento", mas que a agência vai acompanhar de "muito perto" o que está acontecer com os seus principais clientes.

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Lusa
22/10/2022 10:46 ‧ 22/10/2022 por Lusa

Economia

Luís Castro Henriques

Luís Castro Henriques, que está há nove anos na Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) e quase há seis na presidência, termina o mandato no final deste ano.

Perante a atual conjuntura económica, com inflação em alta, a subida dos preços da energia, a guerra na Ucrânia, o presidente cessante da AICEP refere que, "como é óbvio, a incerteza não ajuda ao investimento".

Mas, "não tenhamos nenhuma dúvida que há tendências [...] que estão a ser aceleradas" no mundo, como por exemplo o 'nearshoring' [transferência de um processo de negócio para um país terceiro próximo], uma matéria onde "Portugal e nós aqui, na AICEP, temos feito muito trabalho", afirmou.

Muitas pessoas falam "de desglobalização, eu não vejo bem essa desglobalização, o que eu vejo é uma maior integração regional, mas mesmo assim continua a ser internacional, de cadeias de valor, por uma questão de segurança de abastecimento e que, obviamente, quanto mais incerto for o cenário, mais premente é esta questão", prossegue.

"Esta era uma tendência que já existia antes da pandemia, aparece a pandemia, de repente torna-se óbvio para toda a gente, mas isto já estava a ocorrer", pelo que isso "só acelerou a tendência", sublinha Luís Castro Henriques.

O presidente da AICEP considera que vai continuar a haver "muito comércio internacional", mas "obviamente com cadeias de valor centradas por regiões".

No entanto, "isso não impede que continue a haver comércio internacional interregiões", mas "estamos a assistir a uma regionalização de algumas cadeias de abastecimento e de algumas cadeias de serviços", sublinha, salientando que isso, para Portugal, "tem sido muito positivo".

Isto porque, "graças à nossa competitividade, temos recebido uma parte relevante desse investimento", diz, referindo-se à tendência.

Agora, "se me perguntar em relação aos próximos três, seis meses, é obvio que são meses de muita incerteza, porque nós não sabemos nunca muito o que é que vai acontecer a nível da energia", comentou.

E, neste momento, "a preocupação da AICEP não é só o que acontece em Portugal", mas "o que é que acontece também nos meus clientes", sublinha o gestor.

Nesse sentido, "vamos estar aqui a seguir de forma muito próxima o que é que vai afetar os nossos clientes maiores", assevera.

Agora, "eu continuo a destacar isto porque acho que esta é a principal lição da pandemia para a economia portuguesa, que é: se nós fomos a ver as exportadoras, [estas] fizeram duas coisas absolutamente extraordinárias", conta.

A pandemia afetou a todos, mas, assim que os mercados abriram, as exportadoras portuguesas "começaram a ganhar quota de mercado, mesmo em relação a 2019", e o segundo aspeto, que classifica de relevante, foi "a capacidade que muitas delas tiveram de diversificar" os mercados.

Mesmo durante a pandemia, "as empresas que tinham maior diversificação geográfica ainda aumentaram mais, o que uma capacidade de inovação e de entrada em novos mercados muito significativa", aponta Luís Castro Henriques.

Agora, o que se está a assistir é "uma diversificação relevante para o outro lado do Atlântico, sobretudo na América do Norte, o que é algo" que foi plasmado no Plano Estratégico da AICEP.

"Temos como principais mercados de diversificação dois níveis: um primeiro - continuar a diversificar e aumentar a presença no mercado único da União Europeia e, portanto, diversificar mesmo para outros países da União Europeia; e segundo - para os mercados onde temos acordos de comércio livre, portanto, Japão, Coreia, o México e o Canadá e também os Estados Unidos", refere, ou seja, um "grande foco na América do Norte".

No atual enquadramento, "esta é uma boa solução de diversificação", defende.

E qual é o segredo par enfrentar o contexto atual? "É continuar a diversificar, continuar a ter novas oportunidades. Porquê? Quanto mais diversificado eu tiver, mais exposto a diferentes ciclos económicos estarei e, portanto, nem tudo há decorrer mal", remata.

Isto sempre acompanhando "de muito perto" o que vai acontecer com os principais clientes de Portugal.

Leia Também: 'Pipeline' de investimento este ano é de 10.000 milhões de euros

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