No pior momento da pandemia (segundo trimestre de 2020), a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estimou que se tinham perdido 531 milhões de empregos; no início de 2022, este número tinha caído para 30 milhões, o mais próximo dos níveis pré-crise, mas agora subiu novamente para 40 milhões no terceiro trimestre.
Apenas uma região, a das Américas, voltou aos números de 2019, e no terceiro trimestre de 2022 já tem mais 2,1 milhões de empregos do que na situação pré-pandemia, enquanto na região da Ásia ainda tem um défice de 26,8 milhões de empregos, na da Europa 6,5 milhões, na de África 8,3 milhões e na dos países árabes 900.000 empregos.
De acordo com o relatório, os dois principais fatores para o agravamento em 2022 foram as políticas "zero covid" na China, com efeitos adversos na segunda maior economia mundial, e a guerra na Ucrânia, que alterou os preços da energia e dos alimentos, produzindo uma inflação que também tem impacto no mundo do trabalho.
As perspetivas para o mercado de trabalho global pioraram nos últimos meses, e se as tendências atuais se mantiverem, "espera-se um grande declínio no nível de emprego global até ao quarto trimestre de 2022", prevê o relatório.
O estudo, apresentado numa conferência de imprensa pelo diretor-geral da OIT, Gilbert Houngbo, conclui que já existem sinais de um "profundo abrandamento" no mercado de trabalho que contribuirá para o aumento da desigualdade entre economias desenvolvidas e em desenvolvimento.
Para enfrentar estes desafios, Houngbo propôs políticas a nível nacional e internacional que incluem, entre outras medidas, "intervenções na fixação dos preços dos bens públicos, redirecionamento dos lucros inesperados, e um reforço da segurança dos rendimentos através da proteção social".
A OIT também alertou para o aumento do emprego informal em muitas economias na sequência da pandemia, a ponto de, até 2022, este crescer ao mesmo ritmo que o emprego formal, ameaçando a tendência de formalização do mercado de trabalho global observada nos últimos 15 anos.
Este aumento da informalidade, Houngbo salientou, é particularmente notório na América Latina, com taxas elevadas deste tipo de emprego variando entre 50% e 80%, dependendo do país.
A inflação elevada, o aperto da política monetária, o aumento do peso da dívida e o declínio da confiança dos consumidores contribuem para uma perspetiva "muito incerta" a curto e médio prazo para o mercado de trabalho global, adverte a organização sediada em Genebra.
O décimo relatório periódico da OIT inclui desta vez uma secção especial sobre a Ucrânia, onde estima que a guerra resultou numa perda de 2,4 milhões de empregos, ou uma queda de 15,5% da força de trabalho em comparação com antes da invasão russa.
O número é, contudo, inferior às previsões de há meio ano, quando a OIT receava perdas de emprego de até 4,8 milhões, uma vez que o número de regiões ucranianas ocupadas ou sob hostilidades intensas diminuiu.
Cerca de 10,4% da antiga mão-de-obra da Ucrânia (1,6 milhões de pessoas) são refugiados noutros países, a maioria dos quais mulheres nos setores da educação, saúde e assistência social, diz o relatório, observando que apenas 28% destes refugiados encontraram emprego nos países de acolhimento.
A OIT afirma que os efeitos do conflito podem afetar os mercados de trabalho dos países vizinhos, o que pode levar à "desestabilização política e do mercado de trabalho nesses países".
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