Esta queda reduziu ainda mais a participação de África no mercado de petróleo chinês, de 13,2%, no ano passado, para pouco mais de 10%, nos primeiros três trimestres de 2022, segundo um relatório da consultora especializada no mercado energético, com base em dados das alfândegas chinesas e fontes da indústria.
Angola continua a ser o único país africano na lista dos dez maiores fornecedores de petróleo da China, mas também Luanda está a sofrer com o declínio das compras chinesas ao continente. Nos primeiros nove meses deste ano, as exportações de petróleo bruto de Angola para a China caíram 59,4%, em termos homólogos, de acordo com dados oficiais chineses.
Segundo uma pesquisa feita por David Shinn, investigador especializado nas relações China -- África, da Universidade George Washington, em 2008, a China obteve quase um terço do seu petróleo de África. No espaço de uma década, o volume das compras chinesas caiu 18%, de acordo com a mesma fonte.
O conflito na Ucrânia acelerou este processo. As importações chinesas oriundas da Rússia, sobretudo petróleo e gás, mais do que duplicaram, aumentando 110,5%, em outubro, em relação ao ano anterior, para 10,2 mil milhões de dólares, segundo dados oficiais divulgados esta semana pela Administração Geral das Alfândegas do país asiático.
A China pode comprar energia à Rússia sem entrar em conflito com as sanções impostas pelos Estados Unidos, Europa e Japão. Pequim está a intensificar as compras, para aproveitar os descontos russos. Isto causa fricções com Washington e países aliados, ao aumentar o fluxo de caixa de Moscovo e limitar o impacto das sanções.
As refinarias chinesas do setor privado foram as que mais contribuíram para a diminuição das compras a África, devido aos preços mais atraentes não apenas da Rússia, mas também do Irão e da Venezuela, de acordo com a S&P Global.
Esta transição no mercado energético alarga-se à maioria do continente asiático, apesar de ser mais evidente no caso da China, que é o maior importador de crude do mundo.
A S&P Global prevê que a Ásia encerre 2022 com uma queda acentuada nas compras de petróleo africano, face a taxas de frete relativamente mais altas, uma diferença maior nas cotações de petróleo Brent e Dubai e o aumento da concorrência das refinarias europeias, em busca de alternativas em África, face às sanções impostas à Rússia.
A participação de África no mercado de petróleo da Índia caiu, de 12,5% para 8,4%, entre janeiro e setembro de 2022, face ao período homólogo, à medida que as refinarias indianas aproveitaram também os descontos da Rússia.
Também Japão e Coreia do Sul reduziram as compras de petróleo africano, mas, neste caso, aumentaram as compras à Arábia Saudita e outros países do Golfo Pérsico.
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