Em declarações à Lusa, José Severino admitiu que este "é o velho dilema da economia angolana, que se arrasta há dezenas e dezenas de anos sem ter havido, nalguns momentos, a coragem de se começar a acertar esse valor".
O preço por litro dos combustíveis é superior ao da água engarrafada em muitos locais e isso "é algo que, paradoxalmente, não deve continuar a consistir na nossa economia", sublinhou José Severino.
Segundo o presidente da (AIA), num conjunto de 80 propostas feitas para este quinquénio ao nível do Orçamento Geral do Estado (OGE), apontou-se a questão dos combustíveis por ser um imposto "injusto" e que beneficia quem mais poder de compra tem.
O líder dos industriais angolanos frisou que a economia angolana perde mais de 200 milhões de dólares (192,5 milhões de euros) por ano com o contrabando de combustíveis por manter preços baixos.
"O mais subsidiado de todos na economia é o contrabandista, então, há que termos uma posição que não se resolve com a polícia, que faz aquilo que pode, mas não é omnipresente, e quanto mais polícia se tiver nesse processo, mais se está a sobrecarregar o OGE", salientou.
Para José Severino, é preciso a correção dos preços, particularmente do gasóleo, o mais contrabandeado.
Sobre esta matéria, analisando a economia interna, o presidente da AIA reconhece que existem ainda défices de energia, mas defende que o país "não pode estar à espera de ser perfeito para "não assumir que está a perder muito dinheiro" e que ao corrigir o preço dos combustíveis poderá compensar setores que não têm energia, como fertilizantes e adubos, exemplificou.
"O Estado tem que ter dinheiro para levar benefícios a quem não tem energia, aos agricultores, por exemplo, e para isso tem que ter recursos, que têm que começar a vir do equilíbrio daquilo que é a venda dos combustíveis", salientou.
José Severino reiterou que é preciso que o Estado comece a baixar os subsídios aos combustíveis, uma medida "que não era viável fazer-se no ano eleitoral, mas que, neste ano inicial, tem que se começar a corrigir".
A indústria ainda é movida a geradores, destacou o presidente da AIA, bem como a agricultura que ainda usa e vai usar por muito tempo os tratores, muita energia para a captação da água, setores que o Governo deve continuar a subsidiar.
Este aumento dos preços irá mudar o panorama das cidades, reduzindo a circulação rodoviária. Em Luanda, não se telefona vai-se, porque muitos dos nossos funcionários, inclusive bancários, poderiam vir em carros conjuntos ou ir de autocarros, mas todos vêm porque podem e é mais cómodo nos seus carros. Todos nós, sem exceção, devemos ser pressionados na racionalidade do uso dos combustíveis", observou.
Para zonas em que não haja energia e a indústria depende do consumo de combustíveis, a AIA defende haver um esforço adicional "para o Governo pôr lá energia", propondo que o executivo aceite parcerias público-privadas.
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