Desde as anteriores previsões de inverno, divulgadas a 10 de fevereiro de 2022, Bruxelas tem sido forçada a rever em sucessivas baixas acentuadas as suas projeções macroeconómicas, em grande medida como resultado da guerra lançada pela Rússia na Ucrânia a 24 de fevereiro e consequente escalada nos preços, sobretudo no setor da energia.
No entanto, o desempenho da economia europeia no último trimestre do ano passado foi melhor do que o antecipado pela generalidade das instituições económicas e analistas, com a zona euro a evitar mesmo uma contração que parecia inevitável, ao registar um crescimento de 0,1%, e a encerrar o ano de 2022 com um crescimento de 3,5% (e o conjunto da UE de 3,6%), acima do previsto.
Além disso, os preços do gás e da eletricidade recuaram para níveis anteriores ao da guerra e a inflação recuou de forma acentuada em dezembro -- depois de atingir um máximo histórico de 10,7% na zona euro em outubro, recuou para 10,1% em novembro (a primeira descida desde junho de 2021) e para os 9,2% em dezembro.
"Relativamente às perspetivas económicas, continuamos a esperar um ano desafiante, uma vez que os efeitos da guerra de agressão da Rússia continuam a ter repercussões em toda a nossa economia. Dito isto, tem havido alguns desenvolvimentos recentes encorajadores, que podem antecipar uma contração menos acentuada neste inverno do que o esperado na altura das nossas previsões de outono", em novembro último, disse o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, na anterior reunião do Eurogrupo, no mês passado.
Nas previsões de outono, Bruxelas reviu em forte baixa as perspetivas de crescimento da economia europeia em 2023, antecipando uma contração significativa, com uma subida do PIB de apenas 0,3% tanto na zona euro como no conjunto da União Europeia. Para 2024, o executivo comunitário esperava no outono que o crescimento da economia europeia voltasse a acelerar, para os 1,5% na zona euro e 1,6% na UE.
A nível de inflação -- o único outro indicador contemplado nestas previsões económicas, dado serem intercalares -, Bruxelas previa para este ano que a mesmo atingisse 6,1% na zona euro e 7,0% na UE, recuando em 2024 para, respetivamente, 2,6% e 3,0%, podendo hoje avançar com projeções também ligeiramente mais otimistas.
Relativamente a Portugal, em novembro passado a Comissão Europeia antecipou que o PIB português crescesse apenas 0,7% em 2023, significativamente abaixo das projeções do Governo, que continua a esperar um crescimento de 1,3%, embora o ministro das Finanças, Fernando Medina, tenha assumido no mês passado que os dados de crescimento da economia portuguesa em 2022 -- 6,7%, duas décimas acima do previsto pelo próprio Governo -- deem "mais confiança relativamente ao andamento do ano de 2023".
Quanto à taxa de inflação, no outono a perspetiva de Bruxelas era a de que a mesma recuasse em 2023 para 5,8% e no próximo ano para 2,3%. Já o Governo aponta para uma taxa de inflação de 4% este ano, mas o Banco de Portugal alinha a sua previsão com a da Comissão Europeia, projetando também um valor de 5,8% este ano.
As previsões macroeconómicas de inverno vão ser hoje apresentadas na sede do executivo comunitário pelo comissário da Economia, Paolo Gentiloni, a partir das 10:00 locais, 09:00 de Lisboa, num dia em que Bruxelas acolhe também, da parte da tarde, uma reunião de ministros das Finanças da zona euro (Eurogrupo), na qual participará o ministro Fernando Medina.
Leia Também: Ursula von der Leyen discute com Erdogan apoio adicional ao país