Questionada pela agência Lusa, durante a apresentação das contas de 2022 do grupo Sonae, sobre se a eventual fixação de preços máximos para os bens essenciais poderia ser uma solução para mitigar os efeitos da inflação, a líder da Sonae avisou que "tentar fixar preços dá sempre mau resultado" num mercado como o alimentar.
"Um produtor português que tem que remunerar os seus fatores de produção -- e muito bem -- não vai querer vender a uma cadeia portuguesa com os preços fixos. Vai vender lá fora. E um produtor internacional também não vai vender a Portugal com margens tão baixas. Eu acho que o resultado final de uma política dessas é as prateleiras vazias. E acho que isso ninguém quer", sustentou.
Garantindo que "toda a cadeia alimentar está a ter uma atitude muito responsável" em Portugal face à inflação, tentando "acomodar" o aumento dos custos para minimizar o impacto no consumidor final, Cláudia Azevedo salientou que "o facto de os preços subirem não quer dizer que haja mais lucros, pelo contrário".
"O facto de as pessoas estarem a vender mais caro não significa, em nenhum dos casos, mais lucros. Não vamos atacar aí pelas margens", disse.
Relativamente às operações que têm vindo a ser desenvolvidas pela Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) junto de supermercados e hipermercados de todo o país - e que e que resultou na instauração de várias dezenas de processos-crime pela prática do crime de especulação, nomeadamente por diferenças entre os preços afixados nas prateleiras e o valor pago em caixa pelos consumidores - a CEO da Sonae considerou que "a ASAE tem de continuar a fazer o seu papel e fiscalizar".
"Nós fazemos muito mais controlo nessa situação [de diferenças entre o valor afixado e efetivamente pago] do que a ASAE, fazemos imensas auditorias internas. Isso às vezes acontece, mas é mesmo muito raro e, quanto acontece, é até mais em benefício do cliente", sustentou.
Segundo Cláudia Azevedo, sendo Portugal "um país que compra 50% em promoção, a 'guerra' competitiva é muita nas promoções": "Estamos constantemente a remarcar os preços em loja e pode acontecer -- não devia, mas pode acontecer -- um erro ao trocar uma etiqueta. Mas é muito, muito raro e fazemos muito mais controlo do que a ASAE, para nós esse é um tema importantíssimo", assegurou.
Defendendo que "a ASAE tem de continuar a fazer o seu papel e a fiscalizar", a líder da Sonae considerou que "instrumentalizar casos isolados" é que "é um ataque ao setor, de desinformação".
"Nunca sabemos de quem estão a falar e que números estão a usar", disse.
Leia Também: "Vivemos uma crise séria e estamos a fazer tudo o que conseguimos"