Do "bode expiatório" à demissão, as explicações da CEO da TAP em 6 pontos
A gestora, que está de saída da TAP, considera que a sua demissão é "ilegal" e considera-se um "bode expiatório". Fique a par dos pontos essenciais que marcaram a sua audição no Parlamento.
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Economia TAP
A ainda CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, esteve presente na comissão de inquérito à TAP, na terça-feira, para responder às questões dos deputados sobre o caso Alexandra Reis. A gestora considera que a sua demissão é "ilegal" e considera-se um "bode expiatório", mas há mais.
O Notícias ao Minuto reuniu os cinco pontos mais importantes da audição a Christine Ourmières-Widener, que se prolongou até bem perto da meia noite. Fique a par:
1. Christine Ourmières-Widener: "Pediram-me que me demitisse"
A presidente executiva da TAP disse que lhe foi pedido que se demitisse, numa reunião com Fernando Medina, na véspera do anúncio público da exoneração dos presidentes da companhia, apesar do reconhecimento do "trabalho fantástico" da gestora.
Questionada pelo deputado do PSD Paulo Moniz, na comissão de inquérito à TAP, sobre uma reunião em 5 de março, com o ministro das Finanças, na véspera do anúncio público da sua exoneração, Christine Ourmières-Widener assumiu que foi um encontro "pesado".
"Pediram-me que me demitisse", revelou a gestora, depois de admitir que é um assunto "ainda muito doloroso" e de consultar os advogados que a acompanham.
"O tom da reunião foi muito triste, dizendo-me que os meus resultados eram fenomenais e que eu tinha feito um trabalho fantástico, que era a pessoa certa para o cargo e que este processo [de indemnização a Alexandra Reis] tinha sido conduzido por mim com boa-fé, mas perante toda a pressão de diferentes partes, não restava ao Governo outra opção, não vendo a continuação do meu mandato", afirmou Ourmières-Widener.
2. CEO diz que se reuniu com Medina e não foi avisada de que seria demitida
A CEO da TAP disse que teve uma reunião com Fernando Medina na véspera do anúncio da sua demissão e em nenhum momento foi informada de que seria demitida com justa causa, apenas que a "situação estava complicada".
Durante a audição na comissão de inquérito à TAP, a deputada do BE Mariana Mortágua perguntou a Christine Ourmières-Widener se não tinha tido nenhum contacto ou nenhuma notificação da tutela, antes da conferência de imprensa de 6 de março, a informar que seria demitida.
"Eu tive uma reunião com o ministro das Finanças no domingo à noite antes da conferência de imprensa e durante essa discussão ele expressou que a situação estava complicada, mas ele não me deu a informação que seria demitida com justa causa no dia seguinte", respondeu depois de consultar por breves momentos os dois advogados que a acompanham.
3. CEO da TAP não se "lembra" se CFO sabia do valor de indemnização a Reis
A presidente executiva da TAP disse não poder confirmar se o administrador financeiro tinha conhecimento do valor da indemnização a Alexandra Reis, adiantando apenas que teve mais do que uma conversa sobre esta saída com este responsável.
Na audição que decorre esta tarde na comissão de inquérito à TAP, Christine Ourmières-Widener foi questionada pelo deputado do Chega, Filipe Melo, se sabia se o administrador financeiro, Gonçalo Pires, tinha "conhecimento que Alexandra Reis ia ser despedida e se tinha noção dos valores que estavam a ser negociados".
Sobre o processo em concreto, a CEO da TAP respondeu que o administrador financeiro estava a par desta questão com Alexandra Reis porque o informou de que tinham sido concluídas as negociações para a sua saída. "Depois disso, sobre o valor mesmo não posso confirmar porque não me lembro exatamente. Não posso confirmar que tinha conhecimento do valor", respondeu.
Questionada sobre se só teve com o administrador financeiro "uma conversa informal", Christine Ourmières-Widener assegurou que teve "mais do que uma conversa porque houve mensagens eletrónicas trocadas quando o acordo foi concluído".
4. Auditoria esclarecerá consultoria de 1,6 milhões paga a Fernando Pinto
A presidente executiva da TAP remeteu para uma auditoria as respostas sobre a consultoria paga ao antigo CEO da empresa Fernando Pinto, respondendo à deputada bloquista Mariana Mortágua que lhe perguntou se tinha alguma evidência destes serviços prestados.
Na audição da comissão de inquérito à TAP, Mariana Mortágua questionou Christine Ourmières-Widener sobre a contratação de Fernando Pinto por dois anos, uma consultoria pela qual recebeu 1,6 milhões de euros, ou seja, 67 mil euros por mês.
"Não encontro nenhuma evidência sobre que tipo de consultoria é que foi prestada por Fernando Pinto nestes dois anos e gostaria de saber se tem alguma evidência destes serviços", questionou a deputada na comissão parlamentar de inquérito. A presidente executiva remeteu as respostas para a auditoria feita pela EY, que inclui o caso da saída de Fernando Pinto, sobre a qual ainda não tem o relatório final.
5. "Sou um mero bode expiatório" e fui demitida num "processo ilegal"
A presidente executiva da TAP disse ser "um mero bode expiatório" no caso da indemnização a Alexandra Reis e acusou o Governo de fazer um despedimento "ilegal e pela televisão", sem respeito por uma executiva sénior.
"Sou um mero bode expiatório", afirmou a presidente executiva da companhia aérea, na apresentação inicial da sua audição na comissão de inquérito à TAP, na qual está acompanhada pelos dois advogados. "Eu fui demitida pela televisão, por dois ministros com um processo ilegal", acusou a gestora.
Christine Ourmières-Widener disse ainda não perceber como é que se pode dizer que o estatuto de gestor público, que abrange a TAP, mas que não foi seguido nas negociações com Alexandra Reis, era um "entendimento básico" e com isso fundamentar o despedimento por justa causa.
A presidente executiva sublinhou que "a IGF não concluiu por nenhuma culpa", reiterando que está no meio de uma "batalha política". "Considero que este processo, não só não é legal, como a forma como fui dispensada não foi apropriada, [foi] sem respeito por um executivo sénior", vincou.
6. Secretário de Estado pressionou CEO da TAP a mudar voo de Marcelo? E-mail gera polémica
Por fim, importa ainda sublinhar que o deputado da Iniciativa Liberal, Bernando Blanco, revelou, durante a audição, um e-mail do ex-secretário de Estado das Infra-estruturas para a CEO da TAP sobre um pedido para alterar um voo de Marcelo Rebelo de Sousa.
Em fevereiro Christine Ourmires-Widener foi questionada internamente sobre um pedido para alteração de um voo onde viria Marcelo Rebelo de Sousa, de Maputo. A CEO pediu orientações a Hugo Mendes, dizendo que a sua primeira "reação" era dizer “não”, ao que este respondeu que não se podia por Marcelo a “colocar o resto do país contra nós”.
"Não estou a exagerar. É o nosso maior aliado mas pode tornar-se no nosso maior pesadelo”, respondeu Hugo Mendes à CEO da TAP, citado por Bernardo Blanco. "Não houve alteração da data. O Presidente encontrou outra solução”, disse ainda a CEO na Comissão de Inquérito.
Christine Ourmières-Widener é a terceira personalidade, de uma lista de cerca de 60, a ser ouvida pela comissão parlamentar de inquérito à tutela política da gestão da TAP, constituída por iniciativa do Bloco de Esquerda.
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