Movimento nos portos de Cabo Verde cresceu quase 25% em março
Os portos cabo-verdianos movimentaram 121.504 passageiros no transporte marítimo interilhas em março, um novo aumento mensal, de 24,2% face ao mesmo mês de 2022, segundo dados oficiais consultados hoje pela Lusa.
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Economia Cabo Verde
De acordo com o relatório mensal de tráfego da Enapor, empresa pública responsável pela gestão dos nove portos do arquipélago, o registo de março representa, ainda, um crescimento de 14,1% face a fevereiro, mantendo-se acima dos 100 mil passageiros mensais desde junho do ano passado.
Os portos cabo-verdianos registaram em agosto passado o recorde histórico de 181.420 passageiros, mantendo assim a recuperação das fortes quebras desde 2020, quando as viagens interilhas de passageiros foram condicionadas pelas medidas para conter a pandemia de covid-19.
Em março, o movimento de passageiros no Porto Grande representou 40,7% do total e no Porto Novo 29,4%, respetivamente nas ilhas vizinhas de São Vicente e Santo Antão. O porto da Praia, capital do país, registou uma quota de 12,9% do total, com um movimento que subiu para 15.774 passageiros, indica o relatório da Enapor, a que a Lusa teve hoje acesso.
A CV Interilhas, liderada (51%) pela portuguesa Transinsular, do grupo ETE, detém desde agosto de 2019 a concessão do serviço público de transporte marítimo de passageiros e carga por 20 anos, concentrando estas operações.
Contudo, o ministro do Mar, Abraão Vicente, anunciou esta semana que será assinada na quinta-feira, na Praia, uma minuta de adenda ao contrato de concessão, após vários meses de negociações, face ao serviço prestado pela concessionária.
Só a CV Interilhas transportou cerca de um milhão e meio de passageiros em três anos de operações no arquipélago, segundo dados divulgados em agosto à Lusa pela empresa.
Globalmente, os portos de Cabo Verde movimentaram em março 643 escalas de navios, mais 11,6% face ao mesmo mês de 2022, enquanto o movimento de mercadorias, em termos homólogos, caiu 8,6%, para 209.222 toneladas.
A Lusa noticiou anteriormente que os portos de Cabo Verde movimentaram em 2022 um recorde de 1.357.247 passageiros, um aumento de 24,6% tendo em conta os 1.088.626 movimentados em 2021.
O ministro do Mar afirmou em 10 de março último que os níveis do serviço prestado pela CV Interilhas, concessionária dos transportes marítimos no arquipélago, são "insatisfatórios", admitindo a possibilidade de o Estado comprar navios para os alocar ao serviço.
"Os níveis de serviço dos transportes marítimos estão muito abaixo daquilo que é necessário, que está contratualizado, portanto, é algo indesmentível. Eu, como ministro da tutela, não posso negar este facto", afirmou Abraão Vicente, questionado pelos deputados durante a sessão parlamentar ordinária, na Assembleia Nacional.
Em causa está um diferendo entre a CV Interilhas sobre as verbas a receber pela concessão, que previa as ligações interilhas com cinco navios, mas que há várias semanas são garantidas com apenas dois, gerando forte contestação dos utentes.
"Nós reconhecemos publicamente que os níveis de serviço prestados atualmente são insatisfatórios, não estão de acordo com o contrato concedido e por isso é que nós avançamos com um processo de renegociação. Devo dizer que a redução a nível do serviço mínimo, que é manifestamente insuficiente, foi uma decisão unilateral, sem aprovação da parte do Estado. Tem razão [deputado da oposição] quando diz que há aqui uma espécie de pressão. Neste momento só temos dois navios, 'Chiquinho' e 'Dona Tututa'", afirmou Abraão Vicente.
De acordo com os números apresentados pelo ministro no parlamento, o Governo "já desembolsou" à CV Interilhas 2.498.515.029 escudos (22,6 milhões de euros) no âmbito do contrato de concessão e estão por resolver "diferendos" sobre custos que a empresa considera elegíveis, contrariamente à posição do executivo. A diferença entre valores declarados pela CV Interilhas e os validados pela Comissão de Acompanhamento das Concessões totaliza 516 milhões de escudos (4,6 milhões de euros).
"Com isto, a dívida até ao terceiro trimestre de 2022, no ponto de vista da Comissão de Acompanhamento das Concessões, é de 161 milhões de escudos [1,5 milhões de euros], enquanto da parte da CV Interilhas a contabilidade deles aponta uma dívida do Estado à volta de 677 milhões de escudos [6,1 milhões de euros]. O recurso, como está no contrato, pode ser resolvido a partir do recurso à arbitragem", disse ainda.
Abraão Vicente insistiu que a solução para este diferendo é a renegociação do contrato de concessão, "reconhecendo que os serviços não estão ao nível" do que Cabo Verde precisa, sendo necessário "estabelecer um novo modelo operacional que cumpra as exigências e o número de viagens entre as ilhas".
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