Carlos Silva falava nas Jornadas Parlamentares do PS, que hoje terminaram no Funchal, no único discurso que conteve advertências e aspetos críticos em relação à ação do atual Governo socialista.
Na sua intervenção, Carlos Silva pegou na intervenção antes feita pelo ministro da Economia, António Costa Silva, também nas Jornadas Parlamentares do PS, em que destacou o setor da metalomecânica como um dos que mais contribuiu para as exportações nacionais.
O ex-líder da UGT alegou que esse setor apresenta resultados positivos no mercado internacional "porque apostou nas qualificações" dos seus trabalhadores.
"Mas nem todos os setores apostaram nas qualificações", contrapôs, apontando como exemplo negativo o setor do turismo.
"O [presidente] da Confederação do Turismo de Portugal, Francisco Calheiros, fala muito no novo aeroporto [de Lisboa] e no turismo como sendo a galinha dos ovos de ouro. Mas qual é o fator de atratividade para os trabalhadores portugueses?", questionou, antes de deixar o seguinte reparo.
"É um emprego muitas vezes precário, sem qualificações e baixos salários. O problema de Portugal continua a ser estruturalmente o dos baixos salários e temos de dar um passo em frente. Esta trajetória de aumento dos salários tem de continuar doa a quem doer", sustentou.
O sindicalista fez também críticas à resistência das confederações patronais perante a evolução do salário mínimo desde 2016.
"Os patrões portugueses têm sempre invocado que não têm capacidade para absorver os sucessivos aumentos do salário mínimo nacional, mas que eu tenha conhecimento nenhuma empresa fechou por causa dos aumentos do salário mínimo. Sempre que se discutiu aumentos do salário mínimo, as empresas colocaram invariavelmente em cima da mesa compensações ao nível dos impostos, ou de um conjunto de regras da contratação coletiva e da legislação laboral", apontou.
Neste contexto, congratulou-se por os governos do PS terem "imposto o aumento do salário mínimo".
"E mantenho a minha expectativa de se atingir os mil euros em 2028, por acredito que o PS continua com condições para governar para além de 2026", completou.
Na questão das qualificações, o ex-líder da UGT deixou um desafio ao executivo: "não podemos olhar para as qualificações e muitos continuarem a emigrar".
"É uma fatalidade que ainda temos em muitas empresas, com patrões que possuem menores qualificações do que os seus trabalhadores e suas chefias. A competitividade não pode ser um fator que se alcança com base em políticas de ajustamento salariais. Foi isso que se fez na troika mas esse tempo já lá vai", advogou.
Um dos recados mais sérios que deixou ao Governo relacionou-se com a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), defendendo que o dinheiro tem de chegar às empresas.
"É preciso motivar as empresas portuguesas no sentido de que se candidatem ao PRR. As empresas têm de resolver isso, não o Estado ou o Governo. Mas só 12% do PRR está atribuído. É preciso dar corda aos sapatos", acrescentou, já depois de se ter referido aos efeitos negativos da burocracia e a deficiências inerentes à contratação pública.
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