O Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Centro quer que o líder da igreja católica, que chegou hoje a Portugal no âmbito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), possa "referir" publicamente as situações de incumprimento de direitos laborais na área da diocese e no distrito de Leiria.
No documento a que a Lusa teve hoje acesso, a estrutura representativa dos trabalhadores denuncia situações de "precariedade, baixos salários, trabalho ilegal e clandestino, trabalho suplementar não pago e violação geral de direitos que se abatem sobre os trabalhadores do setor da hotelaria e turismo".
Alerta, por exemplo, para a existência de "milhares de estagiários (...) que todos os anos trabalham gratuitamente" no setor do turismo, sendo "usados para ocuparem postos de trabalho efetivos, libertando as empresas do ónus de contratar trabalhadores e pagar os respetivos salários e impostos".
Relativamente ao setor da restauração e bebidas o sindicato denuncia "trabalho ilegal e clandestino, jornadas de trabalho de 10/12 e mais horas diárias sem remuneração extraordinária".
No setor do alojamento, refere o aumento do "trabalho temporário em que as empresas prestadoras de serviços asseguram serviços essenciais para as unidades hoteleiras, nas secções de cozinha, restaurante, bar, quartos e lavandaria, pondo em causa o direito à estabilidade no emprego e a qualidade do serviço, generalizando-se a violação dos direitos dos trabalhadores".
A estrutura representativa dos trabalhadores foi, em 2017 recebida pelo então bispo da diocese, António Marto, o qual, segundo o sindicato se terá comprometido de que "iria desenvolver a sua magistratura de influência junto de patrões e outras entidades da comunidade, no sentido de apelar para que se alterassem estas práticas".
Porém, convicto de que "nada mudou", o sindicato apelou agora ao Papa Francisco para que se refira a esta realidade que passa também pelo aumento do recurso à mão de obra emigrante, "sobretudo de países do continente africano, mas também do Brasil, da Índia e do Nepal, que vivem e trabalham sem as condições de dignidade que deveriam ter".
Em Fátima, onde Francisco estará no sábado, o sindicato diz haver "situações muito graves" de atropelo aos direitos dos trabalhadores, para as quais a reflexão do Papa "significaria um contributo importante".
Lembrando que algumas unidades hoteleiras em Fátima são dirigidas por congregações religiosas, o sindicato defendeu que "o exemplo deve começar dessas para as restantes do setor empresarial puro e duro, onde as situações são mais complicadas".
O mesmo exemplo deve ainda partir de Instituições de Solidariedade Social e misericórdias no Distrito de Leiria e no concelho de Ourém (a que Fátima pertence), onde "os direitos contratuais não são respeitados", defende o sindicato no documento que pediu para ser entregue ao Papa.
Francisco estará em Portugal entre quarta-feira e domingo, no âmbito da JMJ, com a maior parte das atividades a decorrem em Lisboa, no Parque Eduardo VII, na zona de Belém e no Parque Tejo (a norte do Parque das Nações e em terrenos dos concelhos de Lisboa e Loures).
O Papa deslocar-se-á também a Fátima, no sábado, onde ficará cerca de duas horas, para rezar pela paz e pelo fim da guerra na Ucrânia.
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