"Não vejo que o equacionar dessa situação ponha em causa a independência do governador", afirmou Horta Osório aos jornalistas, à margem da conferência 'Banca do Futuro', que decorre em Lisboa.
Horta Osório disse que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, de quem destacou ser amigo há mais de 30 anos, "fez a opção que considerou melhor para todos os portugueses", mas que, caso tivesse ido pela solução de manter o Governo tendo Centeno como primeiro-ministro, também seria uma boa opção.
"O professor Mário Centeno, com o trabalho que fez como ministro das Finanças, como presidente do Ecofin e governador, tinha todas as condições para fazer um bom lugar", defendeu.
Já sobre o impacto na imagem do país da demissão do primeiro-ministro devido a investigações do Ministério Público, Horta Osório referiu que é "um custo em termos de instabilidade e incerteza para o país", até porque o novo executivo demorará pelo menos mais cinco meses.
O ex-'Chairman' do grupo Credit Suisse e antigo presidente executivo do Lloyds, defendeu ainda que a Justiça é independente, mas que o que se passou deve ser escrutinado e debatido nas mais altas esferas e em toda a sociedade portuguesa.
"Isto pede uma reflexão profunda", acrescentou.
Hoje, numa intervenção na mesma conferência, o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, disse que o país vive um momento de reflexão, citando versos de David Mourão-Ferreira sobre o risco de ser livre pensador.
"Por teu livre pensamento/Foram-te longe encerrar/Tão longe que o meu lamento/Não te consegue alcançar", disse Centeno, citando o poema 'Abandono'.
À saída desta conferência, Centeno não falou aos jornalistas, depois da polémica que o envolveu por ter sido proposto pelo atual primeiro-ministro, António Costa, para o substituir no cargo.
Mesmo depois de o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter decidido que haverá eleições legislativas antecipadas em 10 de março, na sequência da demissão de António Costa (por ser alvo de uma investigação do Ministério Público), a sugestão de Centeno levou a críticas de partidos da oposição e a um diferendo entre Mário Centeno e o Presidente da República.
Em declarações ao jornal Financial Times, no domingo, o governador do Banco de Portugal afirmou que teve "um convite do Presidente e do primeiro-ministro para refletir e considerar a possibilidade de liderar o Governo" e que estava "muito longe de tomar uma decisão".
Em reação, na madrugada de domingo para segunda-feira, o Presidente da República publicou uma nota a negar que tenha convidado quem quer que seja para chefiar o Governo, incluindo o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, ou autorizado qualquer contacto para este efeito.
A declaração de Marcelo Rebelo de Sousa levou Centeno a corrigir a sua declaração: "É inequívoco que o senhor Presidente da República não me convidou para chefiar o Governo", já que optou por dissolver a Assembleia da República, disse Mário Centeno em comunicado.
A conduta de Mário Centeno levou a uma reunião extraordinária da Comissão de Ética do Banco de Portugal, para ser avaliada, tendo esta considerado que o governador cumpriu os deveres gerais de conduta e "agiu com a reserva exigível". Contudo, acrescenta que, "no plano objetivo, os desenvolvimentos político-mediáticos subsequentes podem trazer danos à imagem do Banco", considerando que "a defesa da instituição é ainda mais relevante num período como o atual".
Neste sentido, recomenda a comissão presidida por Rui Vilar que "o governador, a Administração e o Banco no seu todo continuem empenhados na salvaguarda da imagem e reputação do Banco de Portugal".
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