À porta da fábrica em Vila Real juntaram-se ao final da manhã de hoje cerca de 30 trabalhadores da empresa que se mantém como líder do mercado ibérico de produção e comércio de cogumelos frescos, detendo a quase totalidade do mercado nacional.
Nas mãos empunhavam cartazes onde se podia ler "Eu gostava que a minha mãe estivesse mais comigo do que no trabalho", "Aniversário vou fazer, mas o dia não vou ter", "Melhores condições de trabalho", "A greve é a linguagem dos que não são ouvidos", "Valorizem a nossa experiência, diuturnidades justas, já!" e "Pedem mais trabalho e produção, nós pedimos valorização".
"A luta continua na fábrica e na rua" foi o cântico que se fez ouvir junto à fábrica instalada na zona industrial de Vila Real. A greve começou no sábado e termina na quarta-feira e, hoje, realizaram-se conferências de imprensa em Benlhevai (Vila Flor) e Vila Real
Patrícia Fraga tem 38 anos e trabalha há 18 na empresa. Já passou por Benlhevai, Paredes e está, agora, em Vila Real.
"Já merecia mais alguma coisa acima do salário mínimo depois de tantos anos de casa. Estou aqui também para apoiar as minhas colegas para termos melhor qualidade de vida", afirmou esta trabalhadora.
A empresa ex-Sousacamp, com sede em Benlhevai, passou por um processo de insolvência e de mudança de administração.
"Nós estivemos cá sempre na luta, sempre a dar o nosso melhor para a empresa não fechar, porque é o nosso posto de trabalho e nós precisamos de trabalhar", afirmou Patrícia Fraga.
Os trabalhadores e dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura, Indústria, Alimentação, Bebidas e Tabacos de Portugal (SINTAB) alegam que a administração rejeitou negociar o caderno reivindicativo remetido em dezembro e, por isso, reunidos em plenário, decidiram avançar com uma greve de cinco dias.
"A empresa não nos deixou outra hipótese, aquilo que nos responde é que não quer negociar, não quer valorizar os salários, nem as condições de trabalho, nem as funções nem a senioridade dos trabalhadores. A única resposta que temos para dar é a greve", afirmou José Eduardo Andrade, dirigente do SINTAB.
Sandrina Santos, sindicalista da fábrica de Vila Real, concretizou que a principal reivindicação é um aumento salarial na ordem dos 150 euros e frisou que recebe apenas 820 euros de ordenado, o salário mínimo nacional.
"Estamos na rua também para mostrar a falta de condições que nós temos. Nós trabalhamos na apanha de cogumelos e as prateleiras caem aos pedaços, estão completamente podres e os escadotes onde nós estamos para os subir é horrível", exemplificou esta trabalhadora.
O caderno de reivindicações inclui mais segurança no trabalho, diuturnidades que valorizem a senioridade, 35 horas semanais, 25 dias de férias e a folga em dia de aniversário.
A Varandas de Sousa disse, em comunicado, que está a "cumprir um exigente processo de recuperação financeira e comercial" e que, depois de um período em que a empresa "esteve a um passo de fechar as portas (o tribunal condenou o proprietário por insolvência culposa), a empresa foi resgatada e a primeira ação foi pagar os salários em atraso aos trabalhadores".
"Iniciou-se assim uma importante fase da vida da Varandas de Sousa, devidamente impulsionada pelo necessário investimento nos trabalhadores, nas condições de trabalho e nas infraestruturas", frisou.
De acordo com os dados da empresa, a adesão à greve no sábado foi de 1,5% nas três unidades e, no domingo, foi de 0,9%, o que considera que "confirma que o plano de recuperação está a ser bem recebido e entendido". Só no final da greve avançará com dados sobre o dia de hoje, véspera de Carnaval.
Por sua vez, o dirigente do SINTAB José Eduardo Andrade disse que hoje a adesão à greve está a ser mais expressiva na unidade de Vila Real, na ordem dos "90%" em cerca de 60 trabalhadores.
"Em Vila Flor tivemos um crescimento exponencial desde a última greve, em que tivemos uma adesão residual e, desta vez, tivemos quase metade da empresa de greve", referiu.
A empresa tem cerca de 300 trabalhadores nas três unidades.
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