Christine Ourmiéres-Widener, a antiga CEO da TAP que processou a companhia aérea no seguimento do seu despedimento, quebrou finalmente o silêncio após quase um ano depois de a polémica estalar.
"A razão pela qual convenci a minha advogada a deixar-me falar hoje era porque só queria falar após a resposta da TAP à minha ação. E a resposta da TAP estava cheia de mentiras, ataques e insultos, e pareceu-me a altura certa para falar", afirmou Christine Ourmiéres-Widener em entrevista à CNN Portugal, transmitida na segunda-feira à noite, dizendo que estão a tentar destruir a sua reputação.
Sobre o seu trabalho na TAP, revelou que "era um plano muito difícil com muitos desafios". "Tínhamos de apresentar vários resultados e estávamos pressionados por muitos acionistas. Sobretudo, o corte de salários, que tinha de ser mantido tanto quanto possível. E isso criou pressão nas várias partes envolvidas, internas e externas", contou.
Indemnização a Alexandra Reis? "Tudo feito com o aval dos advogados"
Questionada sobre a indemnização a Alexandra Reis e sobre se compreendia a inquietação popular com o valor, afirmou que "o burburinho" à volta empolou as coisas.
"Lembro que foi tudo feito com o aval dos advogados. Os mesmos advogados que me recrutaram para a TAP foram os que me aconselharam neste processo", disse, acrescentando compreender a reação, mas que, ao mesmo tempo, tudo foi "aprovado por várias pessoas" .
A demissão
Sobre a sua demissão, anunciada por Fernando Medina, a ex-CEO da TAP recordou que no dia anterior teve uma reunião o Ministro das Finanças.
"Ele disse-me que não fiz nada de mal, mas que ele tinha de o fazer por motivos políticos. Ele aconselhou-me veementemente a demitir-me pela minha reputação. Chamo a isso chantagem e estar a ameaçar-me e fiz o que ele fez", lembrou.
Em resposta ao pedido de demissão, Ourmiéres-Widener terá mencionado a perda de direitos, ao que Medina terá alegadamente respondido com bónus a ser discutido depois da demissão.
Fernando Medina disse que "podia receber um bónus que podia ser discutido após a minha demissão". "Como podemos confiar em alguém que pede para nos despedirmos? Senti-me humilhada, insultada. Foi horrível", atirou.
Insistindo na ideia que já apresentara antes, Christine diz ser um "bode expiatório de uma história política que começou muito antes de o caso chegar aos media".
Abordando, por fim, a resposta da TAP, a ex-CEO da TAP disse que os bons resultados da empresa devem-se ao trabalho feito por ela e que a companhia aérea está "a tentar convencer" que o seu percurso na indústria é cheia de "falhanços".
"Sou um verdadeiro monstro para eles. Como é que acreditam sequer que isso é verdade quando durante todo o tempo em que estive na TAP só recebi felicitações dos acionistas, incluindo de quem me despediu?", questionou.
"Estão a tentar destruir a minha reputação, destruir o meu passado. Dizem todo o tipo de coisas a meu respeito que não são verdade, que não tive nada que ver com o sucesso da empresa e com os resultados positivos", apontou.
De recordar que Christine Ourmières-Widener reclama 5,9 milhões de euros à TAP. O Governo anunciou, a 6 de março, que a Inspeção-Geral de Finanças (IGF) tinha concluído que o acordo celebrado para a saída antecipada de Alexandra Reis da TAP era nulo e que ia pedir a restituição dos valores.
Christine Ourmières-Widener foi exonerada por justa causa, em abril de 2023, no seguimento da polémica indemnização de meio milhão de euros a Alexandra Reis, que levou à demissão de Pedro Nuno Santos e Hugo Mendes e à constituição de uma Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão da companhia aérea.
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