Recorde de sanções aplicadas pelos EUA pode retirar força ao dólar

A administração norte-americana de Joe Biden tornou-se recordista na aplicação de sanções, visando Rússia -- sobretudo após a invasão da Ucrânia iniciada em 2022 -- China e outros adversários, mas os analistas temem que tal leve o dólar a perder força.

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© Getty Images

Lusa
22/02/2024 08:22 ‧ 22/02/2024 por Lusa

Economia

Ucrânia

Segundo números de várias organizações internacionais, desde os anos 1990, duas em cada três sanções económicas a nível global foram impostas pelos Estados Unidos, que nos últimos anos intensificaram ainda mais a sua política de medidas restritivas, como retaliação por violações de direitos humanos, fomento do terrorismo, tráfico de droga, entre outras atividades consideradas danosas dos interesses norte-americanos.

De acordo com Tim Beal, especialista em Relações Internacionais, os Estados Unidos usam as sanções como "instrumento de coerção" e têm intensificado essa estratégia, muitas vezes de forma unilateral, junto de países com regimes políticos classificados como adversários ou inimigos, incluindo Cuba, China, Irão, Coreia do Norte e Rússia.

No ano passado, os alvos fizeram crescer a lista de sancionados (pessoas e organizações) em 5.500 e centraram-se sobretudo na Rússia -- em grande parte, ainda por causa da invasão da Ucrânia iniciada em 2022 -- e na China, considerada pela Casa Branca como "o principal inimigo" dos interesses norte-americanos.

O Presidente Joe Biden - que termina este ano o seu primeiro mandato e que concorre a um segundo -- tem sido o recordista desta estratégia.

Segundo números do Departamento de Tesouro norte-americano, Biden impôs o dobro das sanções do seu antecessor o republicano Donald Trump, e o triplo do democrata Barack Obama.

Não foi apenas o número de sanções que aumentou exponencialmente, mas também a monitorização da sua aplicação, que passou a ser vigiada de forma mais próxima, com recurso a aplicação de pesadas multas sempre que eram violadas.

As sanções vão desde a proibição de exportações de armas, controlo de uso de tecnologias, proibição de entrada em território norte-americano, congelamento de ativos ou restrições na atribuição de vistos.

Contudo, para vários analistas, estas medidas nem sempre conseguem os efeitos desejados e, algumas vezes, acabam mesmo por prejudicar os interesses norte-americanos, ajudando a enfraquecer o dólar, na medida em que os países e organizações afetadas acabam por procurar outros mercados e outras moedas.

Num recente relatório, o Departamento de Tesouro dos EUA reconheceu que algumas das medidas restritivas contribuíram para o fenómeno classificado como "desdolarização", como quando a Rússia e a China criaram mecanismos de transação internacional que contornam as limitações impostas pelos norte-americanos, como o Sistema de Transferências de Mensagens Financeiras (SPFS, na sigla em inglês) ou o Cross-Border Interbank Payment System (CIPS).

Alguns analistas chamam a atenção para os movimentos que têm sido criados no interior de organizações como o grupo dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), que procuram usar as suas próprias moedas como forma de transação, quando alguns dos seus países começaram a ser mais afetados pelas sanções norte-americanas.

Organizações de defesa dos direitos humanos também criticam a postura muito dura da Casa Branca, acusando os Estados Unidos de descurarem os interesses humanitários, quando as suas sanções afetam a população mais vulnerável dos países afetados, como tem acontecido com Cuba.

Leia Também: Economia russa continua a crescer apesar das sanções da UE

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