"Um país que deve um ano do seu rendimento nunca tem excedente, não tem dinheiro a mais, pelo contrário, tem a menos. O excedente não significa que de repente estejamos folgados", afirma Vítor Bento, em entrevista ao Negócios e Antena1.
Para Vítor Bento, o mais importante é reduzir a dívida "para níveis sustentáveis", sobretudo num cenário de incerteza, em que a economia pode entrar em recessão.
Ainda assim, o presidente da APB considera desejável diminuir a carga fiscal sobre as empresas, assente numa revisão dos benefícios fiscais e a caminhar para uma redução da taxa de IRC para 15%, um objetivo que foi já traçado pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro.
Segundo Vítor Bento, a ideia de que há um excedente e a situação atual de "maior fragilidade política" podem levar a um aumento das reivindicações e à subida da tensão social.
Contudo, salienta, a economia não pode satisfazer tudo e, nesse sentido, espera que haja "bom senso das oposições".
Para já, "pela aparência", Vítor Bento aprova a composição do executivo de Luís Montenegro, mas refere que "os governos são como os melões, que só depois de se abrirem é que se sabe se são bons ou maus".
De qualquer forma, considera possível aprender a trabalhar com uma base parlamentar assente numa maioria relativa, assim "haja vontade e capacidade negocial".
Sobre a necessidade de um orçamento retificativo, não se pronuncia, indicando no entanto que, a existir um excedente, provavelmente está do lado da receita e isso não pode ser transposto para a despesa.
Na entrevista ao Negócios e Antena1, Vítor Bento refere ainda que uma das preocupações que vai levar ao novo Governo é "o excesso de tributação extraodinária" sobre a banca, adiantando que a APB vai pedir o fim das contribuições extraordinárias, porque a medida cria uma distorção do mercado por gerar uma desvantagem para a banca localizada em Portugal.
O líder da associação pretende pedir em breve uma reunião ao novo ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, e lembrar-lhe que o adicional de solidariedade que continua a ser cobrado aos bancos já foi considerado inconstitucional.
Para 2024 e depois de um ano de lucros históricos, Vítor Bento prevê que "em termos de rendibilidade" é provável que haja uma "desaceleração" com a descida das taxas de juro.
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