Presidente do BAD pede fim de empréstimos opacos que "minam potencial"

O Presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) pediu hoje o fim dos empréstimos opacos apoiados em recursos naturais, afirmando que minam o potencial económico de África e dificultam a gestão da dívida.

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Lusa
24/04/2024 13:47 ‧ 24/04/2024 por Lusa

Economia

Banco Africano de Desenvolvimento

"Penso que está na altura de termos uma responsabilização pela transparência da dívida e de nos certificarmos de que toda esta questão dos empréstimos opacos apoiados em recursos naturais acaba", afirmou Akinwumi Adesina.

Esses empréstimos minam o imenso potencial económico de África, complicam a questão da dívida e da resolução da dívida e, assim, comprometem o crescimento futuro dos países, disse o presidente do BAD na Cimeira Semafor África, que decorre à margem das reuniões da primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM).

Este ano, o continente pagará 74 mil milhões de dólares (mais de 69 mil milhões de euros) de serviço da dívida, um aumento acentuado em relação aos 17 mil milhões de dólares (menos de 16 mil milhões de euros) de 2010.

Isto depois de a dívida externa de África ter atingido 824 mil milhões de dólares em 2021 (cerca de 771 mil milhões de euros), com os países a dedicarem 65% do seu Produto Interno Bruto (PIB) para pagarem os custos (serviço) da dívida.

O líder do BAD salientou a mudança do financiamento concessional para uma dívida comercial mais cara e de curto prazo, com a dívida em Eurobonds (títulos de dívida em moeda diferente da nacional do país que os emite) estrangeira a representar atualmente 44% da dívida total de África, contra 14% a 17% anteriormente.

O Banco Mundial tinha já alertado, no seu relatório divulgado na semana passada, que "os riscos de sobre-endividamento na África subsaariana subiram significativamente em resultado de mais endividamento em termos menos concessionais".

O presidente do BAD criticou também o 'África premium' (uma sobretaxa) que os países pagam quando acedem aos mercados de capitais, apesar de os dados mostrarem que as taxas de incumprimento em África são inferiores às de outras regiões e apelou por isso ao fim desta perceção de risco.

Embora reconhecendo as pressões fiscais enfrentadas pelas nações africanas devido à pandemia de covid-19, às necessidades de infraestruturas e ao aumento da inflação, Adesina sublinhou a necessidade de abordar as questões estruturais no panorama da dívida de África.

O Presidente do BAD sublinhou também a necessidade de aumentar o financiamento concessional, isto é, em condições mais favoráveis que as da banca comercial, especialmente para os países de baixo rendimento e a importância de criar uma forma ordenada e previsível de lidar com a dívida de África, apelando a uma aplicação mais rápida do quadro comum do G20.

Olhando para o futuro, Adesina mostrou-se otimista em relação às oportunidades em África, em particular nas energias renováveis, dado o vasto potencial do continente, e referiu-se aos vários instrumentos e iniciativas do BAD para reduzir o risco dos projetos e atrair investidores institucionais.

"África é o melhor destino de investimento do mundo", concluiu Adesina, enfatizando o compromisso do Banco Africano de Desenvolvimento em criar um ambiente propício para que os investimentos prosperem.

A sessão da cimeira Semafor, intitulada "Classe média global em ascensão: O aumento da dívida dos países em desenvolvimento é uma bênção ou uma maldição?", reuniu uma série de participantes para conversarem sobre o aumento do peso da dívida enfrentado pelos países em desenvolvimento, à medida que os custos dos empréstimos aumentam.

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