A manifestação frente ao BCP no Tagus Park, Oeiras, começou ao início da tarde e ficou mais ruidosa à medida que se aproximava a hora da assembleia-geral, marcada para as 14h30. Ouvem-se apitos e as palavras de ordem "Maya, escuta, bancários estão em luta" e "lucros de milhões, aumentos de tostões".
Os manifestantes têm cartazes a dizer "aumentos indignos estranham-se mas não se entranham" e há uma carrinha com um grande cartaz no qual se lê "exigimos decência nos aumentos dos salários e pensões dos bancários ativos e reformados".
O presidente do SNQTB, Paulo Marcos, disse à Lusa que vieram manifestantes de todo o país (sobretudo em autocarros) e que o protesto é "pela justa distribuição não só aos acionistas, mas também aos trabalhadores", dos resultados do banco e contra a atualização dos salários nuns "míseros 2,25%".
A última proposta do BCP para aumentos dos trabalhadores no ativo e reformados é de 2,25%, enquanto o SNQTB exige 5,8%.
Paulo Marcos vai participar na assembleia-geral representando sócios do SNQTB que têm ações do banco e, segundo explicou, pedirá a palavra para questionar o esforço de redistribuição dos resultados entre dividendos, remuneração da administração e trabalhadores.
"Vamos saudar o ano excelente de 2023 e pôr em causa os valores que trabalhadores não recebem numa sociedade que se quer justa e equitativa e quando se soube que o presidente executivo [do BCP] tem uma remuneração 22 vezes superior ao trabalhador médio, diferença que pode ser esbatida", afirmou à Lusa.
Rui Coelho, que está reformado depois de ter trabalhado no BCP e no BPI, disse que veio à manifestação porque é "uma causa justa" e recordou que no passado os trabalhadores do BCP, num momento difícil do banco, aceitaram perda de rendimentos. "Agora que podiam fazer pagamentos adequados não o fazem", criticou.
O coordenador da Comissão de Trabalhadores do BCP, Rui Vieiro, afirmou que num momento de bons resultados e produtividade a atualização salarial proposta é "muitíssimo insuficiente". Disse ainda que para a CT qualquer aumento abaixo de 5% é insuficiente pois o banco pode pagar e até teria vantagens fiscais.
Também da CT, Joao Paulo Pires defendeu que é necessária mais mobilização dos bancários que desde o período da 'troika' perderam direitos que nunca foram retomados. Além disso, afirmou, a redução de trabalhadores que tem havido na banca aumenta a produtividade, mas mesmo assim há estagnação salarial.
"Dizem que é preciso prosperidade, quando há prosperidade não há distribuição", disse Vanda Mendes, também da CT, acrescentando que muitos bancários não se manifestam por medo de serem sancionados, por exemplo, com a perda de remuneração variável.
Hoje decorre a assembleia-geral do BCP, que teve início às 14:30.
Entre os pontos em cima da mesa estão a eleição da mesa da assembleia-geral para o quadriénio 2024/2027 (sendo a proposta manter como presidente Pedro Rebelo de Sousa), a aprovação do relatório de gestão, balanço e contas de 2023 (ano de lucros recorde de 856 milhões de euros) e a aprovação da proposta de aplicação de resultados, desde logo a distribuição de 256,9 milhões de euros em dividendos.
O BCP tem mais de 100 mil acionistas, sendo os maiores a chinesa Fosun com 20% e a angolana Sonangol com 19,49% do capital. Em conjunto, receberão cerca de 100 milhões de euros.
O presidente executivo do BCP, Miguel Maya, tem dito que não fala em público sobre aumentos salariais. Ainda assim, na conferência de imprensa de apresentação dos resultados do primeiro trimestre (lucros de 234,3 milhões de euros), disse que quando toma decisões destas tem de ter "visão de sustentabilidade" do banco no futuro e que ninguém mais que a sua equipa quer pagar melhor aos trabalhadores.
Maya considerou ainda que não se pode falar em aumentos salariais justificando com os lucros recorde de 2023, pois estes resultados são de um ano, ao passo que o aumento salarial permanece enquanto o trabalhador estiver no banco.
A última proposta do BCP para aumentos salariais em 2024 é de 2,25%, um valor rejeitado pelos sindicatos. Os sindicatos também rejeitam as outras propostas existentes no setor por considerarem muito baixas face ao aumento do custo de vida e aos lucros da banca (a proposta dos bancos que subscrevem o Acordo Coletivo de Trabalho do setor é de 2,5% e a proposta da Caixa Geral de Depósitos é de 3,4%).
No final de março, o BCP tinha 6.269 trabalhadores em Portugal.
Segundo o relatório e contas de 2023, no ano passado, o BCP pagou aos membros do Conselho de Administração não executivos 1,56 milhões de euros, sendo que para o presidente, Nuno Amado, foram 691 mil euros. Aos membros da Comissão Executiva foram pagos 3,0 milhões de euros, cabendo a Miguel Maya 649 mil euros.
Além dos salários, os administradores recebem remuneração variável (em dinheiro e ações) e complementos de reforma.
Esta manifestação não conta com a presença de outros sindicatos bancários, nomeadamente os afetos à UGT. Questionado pela Lusa, o presidente do SNQTB respondeu que foram convidados.
"Provavelmente estamos em níveis de maturidade e consciencialização sindical diferentes, representamos cerca de metade dos trabalhadores bancários no ativo e querem postura assertiva. Não contem connosco para passividades", disse.
O SNQTB também já disse em público que está disponível para avançar com uma greve até três dias no setor se outros sindicatos concordarem, contudo, não há novidades neste assunto.
[Notícia atualizada às 15h40]
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