Ao resumir dois dias de conversações ministeriais dos países BRICS, realizadas na cidade russa de Nizhny Novgorod, Lavrov declarou que este grupo, formado inicialmente pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e alargado no início deste ano com cinco novos membros, "não se isola do resto do mundo".
"A multipolaridade não é algo que dependa dos desejos de um Estado ou de um grupo de Estados (...) é um processo objetivo num desenvolvimento impossível de parar", declarou Lavrov na conferência de imprensa da reunião ministerial, que é vista como um prelúdio da Cimeira dos BRICS, a realizar em Kazan de 22 a 24 de outubro.
"Pelo contrário, o BRICS moldou-se objetivamente como um grupo de países interessados em garantir que a justiça prevaleça na arena internacional. O BRICS não pretende constituir-se como um pólo. No mundo policêntrico haverá muitos mais pólos", disse.
No seu entender, esta atitude contrasta com a do Ocidente, que - segundo o seu discurso - procura por todos os meios travar a multilateralização da comunidade internacional para "prolongar a sua hegemonia, declarada como o principal objetivo dos Estados Unidos e dos seus aliados".
"Declaram sem pudor que a ordem mundial, na qual o papel principal pertence aos americanos, à NATO e à União Europeia (UE), não pode mudar", disse, descrevendo esta atitude como uma "mentalidade neocolonial".
Os BRICS, por outro lado, depois de aceitarem cinco novos países este ano - Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irão - "estão a estudar as modalidades de implementação de uma nova categoria de países 'parceiros'" do grupo, disse o chefe da diplomacia russa.
"O número de países que manifestaram interesse em juntar-se ao nosso trabalho está a aumentar de forma constante e já se aproxima das três dezenas", afirmou Lavrov.
Além disso, acrescentou, o grupo reforçará a cooperação com outras organizações internacionais, como a Organização de Cooperação de Xangai, a União Africana, a União Económica Eurasiática, a Comunidade de Estados Independentes, a Liga Árabe, a Comunidade de Estados Latino-Americanos e das Caraíbas e muitas outras.
"Isto levará a uma harmonização gradual baseada no respeito mútuo das abordagens aos problemas que estão na agenda de todas estas organizações", disse ainda Lavrov.
Numa declaração conjunta, os ministros dos Negócios Estrangeiros do grupo apelaram ao "reforço da parceria estratégica dos BRICS em três direções de cooperação: política e segurança, económica e financeira, cultural e humanitária", com base no "respeito e compreensão mútuos, igualdade, solidariedade, transparência, inclusão e consenso".
Como parte desta agenda, defenderam a necessidade de aumentar a utilização das moedas nacionais nas transações comerciais entre os membros da parceria, bem como a expansão da cooperação com países em desenvolvimento, que se poderão tornar parceiros do BRICS.
Os chefes da diplomacia do grupo concordaram ainda em aprofundar a cooperação no domínio da energia e em unir esforços na luta contra o terrorismo e o tráfico de droga.
Por fim, defenderam a importância de avançar com a agenda climática e de promover a estabilidade e a segurança no Afeganistão.
Durante os dois dias da reunião ministerial dos BRICS, Lavrov manteve conversações não só com os seus homólogos deste grupo, mas também com os chefes da diplomacia de outros países que aspiram a associar-se, como a Venezuela, a Turquia, o Sri Lanka e o Cazaquistão, entre outros.
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