Nos últimos dias, o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou um conjunto de dados sobre o emprego em Portugal, que mostram que os salários estão a aumentar e que o desemprego se fixou em 6,1% no 2.º trimestre - uma queda face aos três meses anteriores e estabilização relativamene ao período homólogo de 2023 -, mas existem setores e grupos específicos em contraciclo.
Apesar da queda no trimestre, o INE revelou também que só no mês de junho, a taxa de desemprego subiu de 6,5% em maio para 6,7%, com uma nova desaceleração homóloga do emprego. O Fórum para a Competitividade nota que "em termos mensais, perderam-se 27,8 mil empregos mas o número de desempregados apenas subiu em 13,1 milhares, o que sugere que a subida da taxa de desemprego está a subestimar as dificuldades do mercado de trabalho".
Já o BPI Research destaca, numa nota de análise, que o emprego cresce, "mas a um ritmo cada vez menor". O número de pessoas empregadas está em máximos, mas Vânia Duarte, que assina a nota, destaca que o "crescimento do emprego parece estar a esgotar-se: o crescimento homólogo de 1,0% (e de 48.500 pessoas) compara com um crescimento de 2,8% (e de 139.700 pessoas) no trimestre homólogo".
"A robustez do mercado de trabalho deverá continuar a ser um fator de suporte ao crescimento económico em 2024, mas com menos vigor tal como parecem apontar os dados divulgados pelo INE", assume a economista.
O INE revelou ainda que mais de metade (52,8%) dos desempregados no primeiro trimestre deste ano continuava sem emprego no segundo trimestre, tendo 28,5% encontrado trabalho.
Para Gonçalo Pina, professor associado de economia internacional na ESCP Business School, em Berlim, estes dados refletem "o abrandamento económico que de verificou no último trimestre".
Ainda assim, João César das Neves, professor da Universidade Católica, considera que "os indicadores ainda não são suficientemente claros para se poderem tirar conclusões sobre o crescimento". O economista aponta que o ano "começou melhor que na Europa", mas ressalva que "essa vantagem parece frágil".
Há também preocupações com o desemprego entre os jovens. Como a própria ministra do Trabalho admitiu, o desemprego jovem está bastante acima da taxa geral, o que diz ser "inadmissível". Na comparação europeia, Portugal tem uma taxa de desemprego jovem acima da média, sendo a quarta mais alta (apenas atrás de Espanha, Suécia e Grécia).
Se olharmos para a série estatística iniciada em 2011, o desemprego jovem atingiu o pico em 2013, quando foi de 42,6% e seguiu uma trajetória de descida até 2019. Em 2020, a pandemia levou a uma nova subida, com a taxa a atingir os 26,2% no 3.º trimestre. Desde aí, a taxa tem oscilado mas cresceu no final do ano passado para 23,9% e no primeiro trimestre deste ano fixou-se em 23%.
Segundo as "Estatísticas de fluxos entre estados do mercado de trabalho", dos jovens "nem, nem", que não estudavam nem trabalhavam no 1.º trimestre de 2024, "20,9% (44,4 mil) transitaram para o emprego, enquanto 17,6% (37,6 mil) passaram a frequentar um nível de escolaridade ou formação no 2.º trimestre de 2024".
João César das Neves considera que este é "um sinal da disfuncionalidade do nosso mercado de trabalho, que favorece os instalados à custa dos recém-chegados".
Já para o economista Gonçalo Pina, desemprego elevado nos jovens "significa que parte da população ativa além de não ter emprego, provavelmente não está a melhorar o capital humano, e terão menos produtividade no futuro (isso sim com algumas consequências negativas no crescimento económico)".
Quanto às perspetivas para a evolução do desemprego este ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI), Comissão Europeia e Banco de Portugal apontam todos para uma taxa de desemprego de 6,5%, enquanto o CFP projeta 6,4% e a OCDE 6,3%. Já o Ministério das Finanças é o mais pessimista e apontou, no Programa de Estabilidade, para uma taxa de 6,7%.
Para 2025, todos preveem uma redução do desemprego face a 2024, para entre 6,2% e 6,6%.
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