Ciberataques na Finlândia aumentaram desde que país entrou na NATO

A diretora de segurança da informação da WithSecure diz, em entrevista à Lusa, que a Finlândia registou um aumento de cibertaques deste que entrou na NATO e defende que os países que valorizam a democracia devem "trabalhar em conjunto".

Notícia

© Alessandro Rampazzo/Anadolu via Getty Images

Lusa
24/11/2024 09:25 ‧ há 2 horas por Lusa

Tech

WithSecure

A Ucrânia foi invadida pela Rússia em fevereiro de 2022, e em 12 de maio a Finlândia anunciou a sua intenção de se tornar membro da NATO, tornando-se oficial em 04 de abril de 2023.

 

Questionada se o país registou um aumento dos ciberataques desde então, Christine Bejerasco, que é 'chief information security officer' (CISO) da WithSecure, com sede em Helsínquia, admite que "sim".

Antes de fevereiro de 2022, já tinham ocorrido "alguns ataques" que visavam interromper os serviços de rede, denominados 'denial of service attacks' (DoS), mas durante esse ano viu-se "um aumento vindo de grupos ativistas pró-Rússia que estavam a realizar ciberataques", relata.

"Houve mesmo uma altura em que, antes de Zelensky [Presidente ucraniano] se dirigir ao parlamento, o 'website' do parlamento foi abaixo. Portanto, era claramente para enviar uma mensagem", prossegue Christine Bejerasco.

E "outra coisa que vimos e que ainda se sustenta até hoje são os bloqueios do GPS. Portanto, antes de 2022, havia muito poucos ataques de bloqueio de GPS, por assim dizer e depois, com 2022, houve mais interferências deste tipo do que as que vimos de 2018 a 2021", aponta.

Em 2023, "houve mais em comparação a 2018 e 2022. E o mesmo este ano, é mais comparado com os anos anteriores. Portanto, também houve um crescimento exponencial deste bloqueio de GPS", contou.

De acordo com Christine Bejerasco, há "duas escolas de pensamento" sobre esta matéria.

A primeira é de que, como "muitos destes ataques de 'drones' são guiados por GPS, estão a bloquear signais de GPS para se defenderem", o que "teria feito sentido se este bloqueio acontecesse apenas em áreas de onde os 'drones' realmente vêm", diz.

E há outra escola de pensamento que admite que "isto pode realmente ser um ataque porque alguns aeroportos na Finlândia", por exemplo, "também têm experimentando" este tipo de situações estando perto da fronteira russa.

Isso também fez com que, tal como acontece com alguns destes aeroportos, já não se possam "controlar a partir de um aeroporto maior porque já não se pode usar o GPS", pelo que se tem de usar outros sistemas de orientação "para guiar os aviões quando se trata de aterragens", conta.

Portanto, "isso é algo que continua até hoje", diz a especialista em cibersegurança.

Christine Bejerasco admite que os ciberataques vão continuar a ser mais sofisticados. Tal como aconteceu na II Guerra Mundial, "há uma tendência para as guerras também promoverem o avanço das tecnologias e, se olharmos para as tecnologias de 'drones' hoje em dia, quero dizer que estão provavelmente mais avançadas do que estavam antes da invasão russa da Ucrânia".

Portanto, "estas tecnologias avançaram enormemente porque há clientes que as compram e estão continuamente a evoluir estas tecnologias".

"Ora, o que é lamentável é que os fabricantes destas tecnologias não são apenas países democráticos. Quer dizer, são fabricados no Irão, por exemplo. E já vimos, como, por exemplo, alguns dos relatórios vindos dos economistas, há uns meses, sobre colocar quatro governos totalitários ou autoritários diferentes numa espécie de tabela onde podem não estar completamente aliados, mas depois têm coisas em comum que gostariam de ter como aliados contra um mundo mais democrático", refere a responsável da WithSecure, para quem isso "é definitivamente perigoso".

Ora, se "eles pensam desta forma, então é necessário que nós, como países que valorizam a democracia, também trabalhemos em conjunto e façamos o nosso melhor para garantir que as coisas que valorizamos também possam ser defendidas", sublinha.

Questionada sobre se considera que a democracia pode estar sob ataque, é perentória: "Absolutamente".

"E o que é triste nisto tudo é que, em defesa da democracia, um país pode tornar-se ele próprio autocrático, que é realmente o perigo contra o qual precisamos de estar atentos", alerta Christine Bejerasco.

Porque é "tão fácil estar no poder e depois decidir que vou fazer isto porque é a coisa certa e, antes que se dê conta, há um deslizamento gradual em direção à autocracia. E depois torna-se naquilo contra o qual está a lutar", explana.

Esta também pode ser uma "das razões desta polarização que, à medida que o mundo se torna mais confuso, as pessoas queiram tornar-se um pouco mais binárias porque o binário é fácil de entender. E a democracia não é binária", prossegue.

"Voltando à cibersegurança, é aqui que esta informação se torna realmente crucial porque os governos que são autocráticos sabem controlar o sentimento da população", aponta, como por exemplo governar pelo medo.

Se a população for enorme "não podem simplesmente controlá-la com mão de ferro", mas se controlarem a maneira como pensam, sentem, "isso será mais duradouro do que apenas pura coação física".

Se as pessoas foram 'alimentadas' com "informação incorreta e desinformação, isso influencia o curso de uma eleição democrática", como já aconteceu.

E, deste ponto de vista, "quão democrática se tornou essa eleição", questiona a especialista em cibersegurança finlandesa.

Christine Bejerasco foi uma das participantes da edição deste ano da Web Summit, em Lisboa.

Leia Também: Amazon investiu quase 4 mil milhões de euros em rival da OpenAI

Partilhe a notícia

Produto do ano 2024

Descarregue a nossa App gratuita

Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas