"Temos um clima ameno e vivemos num país com muitas horas de sol, no entanto gelamos dentro de casa quando chega o inverno. Este é um problema recorrente, que acontece assim que os termómetros começam a descer.
Segundo o PCS – Portal da Arquitetura e Construção Sustentável, metade dos portugueses reconheceram ter passado frio dentro de casa por não terem dinheiro para pagar o aumento do preço da energia. Destes, 16% admitiram ter vestido roupa sobre roupa para se manterem aquecidos. Ainda de acordo com o PCS, oito em cada dez portugueses depende exclusivamente da energia da rede para climatizar a casa e apenas 9% dizem utilizar energia renovável para complementar a energia da rede, designadamente painéis fotovoltaicos.
Perante esta realidade, só existe uma forma de resolver a situação: com soluções de construção e reabilitação de habitações e edifícios mais eficientes.
E que soluções são essas?
As condições mais importantes para a eficiência energética são, por ordem de importância:
- a solução construtiva da parede exterior (de acordo com a orientação solar);
- a colocação do isolamento;
- as janelas (tipo de vidro e caixilharia)
- e as proteções utilizadas no envidraçado.
É também preciso ter em mente que soluções eficientes passam pela correta escolha e instalação do isolamento das paredes, os pavimentos e telhados e das janelas com vidro duplo ou mesmo triplo, em alumínio, PVC ou madeira.
A juntar a tudo isto deve também ser tida em consideração a durabilidade da construção.
Atualmente, existe um mundo possibilidades e um leque variado de opções, veja-se, por exemplo, os pisos radiantes hidráulicos com bomba de calor, o ar condicionado, os radiadores com bomba de calor ou as caldeiras a lenha ou pellets.
No Norte da Europa, como é o caso da Alemanha, já existem soluções mais disruptivas com construções de raiz pensadas para serem mais eficientes. Refiro-me às “passive houses”, um tipo de habitação concebida para manter as condições atmosféricas ideais no interior, com uma poupança de energia de entre 70% e 90%, em linha com as metas definidas pela União Europeia - a partir de 2030, todos os novos edifícios na União Europeia devem ter emissões zero, e para todos os novos edifícios públicos o prazo estende-se até 2027.
Saudamos as medidas do Governo, como por exemplo o Programa de Apoio a Edifícios Mais Sustentáveis para financiamento de melhoria da eficiência energética dos edifícios, mas é preciso fazer mais.
Sabemos que o impacto destes programas foi diminuto. Houve poucos candidatos, mas o financiamento não chegou. Em termos de materiais de construção, apenas as janelas foram tidas em consideração para melhorar o conforto térmico, pelo que nos parece essencial repensar o que pode ser feito para melhorar o conforto térmico das casas e proteger as famílias.
É preciso garantir que o novo programa E-Lar, lançado em novembro, destinado à substituição de eletrodomésticos por aparelhos mais eficientes, seja um contributo real para os portugueses em situações de maior vulnerabilidade. Este programa apoia também a compra de aparelhos de ar condicionado e outros equipamentos energeticamente eficientes. Mas de que me vale ter um equipamento que aqueça o interior de uma casa, se a construção for sofrível, sem isolamento, e fizer com que todo o calor se disperse? Além de ser o oposto da eficiência energética, aumentará exponencialmente os custos.
A pobreza energética é uma realidade que não podemos ignorar. Apesar de parecer que o inverno está até agora a dar tréguas, não podemos esquecer-nos das alterações climáticas, que nos fazem antever invernos cada vez mais rigorosos e verões cada vez mais quentes. Se sabemos que a maioria dos portugueses passa frio dentro de casa nesta época do ano alguma coisa tem de ser feita, a começar por uma reflexão profunda sobre soluções que possam trazer as famílias o conforto que se exige dentro de casa."