"Pobreza energética é pobreza na construção"

Um artigo de opinião assinado por Adriano Nogueira Pinto, coordenador nacional da DS Private.

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© Imagem cedida por Adriano Nogueira Pinto

Notícias ao Minuto
19/12/2024 16:12 ‧ 19/12/2024 por Notícias ao Minuto

Economia

Artigo de opinião

"Temos um clima ameno e vivemos num país com muitas horas de sol, no entanto gelamos dentro de casa quando chega o inverno. Este é um problema recorrente, que acontece assim que os termómetros começam a descer.

 

Segundo o PCS – Portal da Arquitetura e Construção Sustentável, metade dos portugueses reconheceram ter passado frio dentro de casa por não terem dinheiro para pagar o aumento do preço da energia. Destes, 16% admitiram ter vestido roupa sobre roupa para se manterem aquecidos. Ainda de acordo com o PCS, oito em cada dez portugueses depende exclusivamente da energia da rede para climatizar a casa e apenas 9% dizem utilizar energia renovável para complementar a energia da rede, designadamente painéis fotovoltaicos.

Perante esta realidade, só existe uma forma de resolver a situação: com soluções de construção e reabilitação de habitações e edifícios mais eficientes. 

E que soluções são essas?

As condições mais importantes para a eficiência energética são, por ordem de importância:

  1. a solução construtiva da parede exterior (de acordo com a orientação solar);
  2. a colocação do isolamento;
  3. as janelas (tipo de vidro e caixilharia)
  4. e as proteções utilizadas no envidraçado. 

É também preciso ter em mente que soluções eficientes passam pela correta escolha e instalação do isolamento das paredes, os pavimentos e telhados e das janelas com vidro duplo ou mesmo triplo, em alumínio, PVC ou madeira. 

A juntar a tudo isto deve também ser tida em consideração a durabilidade da construção.

Atualmente, existe um mundo possibilidades e um leque variado de opções, veja-se, por exemplo, os pisos radiantes hidráulicos com bomba de calor, o ar condicionado, os radiadores com bomba de calor ou as caldeiras a lenha ou pellets. 

No Norte da Europa, como é o caso da Alemanha, já existem soluções mais disruptivas com construções de raiz pensadas para serem mais eficientes. Refiro-me às “passive houses”, um tipo de habitação concebida para manter as condições atmosféricas ideais no interior, com uma poupança de energia de entre 70% e 90%, em linha com as metas definidas pela União Europeia - a partir de 2030, todos os novos edifícios na União Europeia devem ter emissões zero, e para todos os novos edifícios públicos o prazo estende-se até 2027.

Saudamos as medidas do Governo, como por exemplo o Programa de Apoio a Edifícios Mais Sustentáveis para financiamento de melhoria da eficiência energética dos edifícios, mas é preciso fazer mais.

Sabemos que o impacto destes programas foi diminuto. Houve poucos candidatos, mas o financiamento não chegou. Em termos de materiais de construção, apenas as janelas foram tidas em consideração para melhorar o conforto térmico, pelo que nos parece essencial repensar o que pode ser feito para melhorar o conforto térmico das casas e proteger as famílias. 

É preciso garantir que o novo programa E-Lar, lançado em novembro, destinado à substituição de eletrodomésticos por aparelhos mais eficientes, seja um contributo real para os portugueses em situações de maior vulnerabilidade. Este programa apoia também a compra de aparelhos de ar condicionado e outros equipamentos energeticamente eficientes. Mas de que me vale ter um equipamento que aqueça o interior de uma casa, se a construção for sofrível, sem isolamento, e fizer com que todo o calor se disperse? Além de ser o oposto da eficiência energética, aumentará exponencialmente os custos. 

A pobreza energética é uma realidade que não podemos ignorar. Apesar de parecer que o inverno está até agora a dar tréguas, não podemos esquecer-nos das alterações climáticas, que nos fazem antever invernos cada vez mais rigorosos e verões cada vez mais quentes. Se sabemos que a maioria dos portugueses passa frio dentro de casa nesta época do ano alguma coisa tem de ser feita, a começar por uma reflexão profunda sobre soluções que possam trazer as famílias o conforto que se exige dentro de casa."

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