"Esta situação da insolvência da empresa era algo que se falava e, de certa forma, esperada, e foi sendo adiada desde janeiro com instruções para ficarmos em casa, primeiro até 31 de janeiro, depois até 7 de fevereiro, e ontem [segunda-feira] fomos notificados para ficar em casa até dia 21, sempre na incerteza do nosso futuro", disse hoje à Lusa um funcionário da Tupperware, instalada em Constância (Santarém).
Para Rui Caseiro, 47 anos de idade e 23 anos de fábrica, "foi uma surpresa receber a notícia da insolvência" no mesmo dia em que foi notificado para ficar em casa até dia 21 de fevereiro, tendo dado conta que os trabalhadores foram convocados para uma reunião na quinta-feira com o gestor de insolvência, dia em que afirmou "esperar obter informações sobre o futuro", quer da empresa, quer da situação laboral.
Outra funcionária, com 58 anos de idade e "mais de 30 anos de casa", que optou por não se identificar, disse hoje à Lusa que se "mantém a incerteza sobre o futuro", pelo menos "até à reunião de quinta-feira com o gestor da insolvência".
"Este era um desfecho esperado, estamos cansados, e o que tudo quer é o papel para o desemprego e receber tudo a que temos direito. Vamos ver como corre na quinta-feira", declarou.
Numa das cartas dirigida ontem aos trabalhadores, e assinada pelo diretor da unidade fabril, a que a Lusa teve hoje acesso, pode ler-se que, "na sequência da reunião de 09 de janeiro de 2025 e conforme acordado, vimos pela presente comunicar que se encontra dispensado de comparecer ao serviço e prestar trabalho de 9 de fevereiro a 21 de fevereiro, inclusive", na sequência de uma primeira notificação que abrangia o período de 16 de janeiro a 07 de fevereiro.
A carta refere ainda que, "durante o referido período, [o trabalhador] fica dispensado dos deveres de assiduidade e pontualidade", e que "esta dispensa não altera a sua situação laboral, mantendo todos os direitos e regalias, incluindo o pagamento da remuneração e respetiva contagem da antiguidade".
Rui Caseiro disse à Lusa que "os vencimentos estão todos em dia" e que "não houve despedimentos" até ao dia de hoje.
A empresa detentora da fábrica da Tupperware em Montalvo foi declarada insolvente na segunda-feira pelo Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa, desfecho que pode culminar com o despedimento de 200 trabalhadores, com o sindicato representativo a reivindicar o cumprimento dos direitos dos funcionários.
"Já esperava esta insolvência há muito tempo porque nenhum dos trabalhadores foi despedido, apenas os mantinham em casa", afirmou a dirigente do SITE CRSA Isabel Matias, tendo alertado para a necessidade de reclamarem os seus créditos.
Segundo a dirigente sindical, os trabalhadores "têm que aguentar a ver qual é que é a solução" que vai ser apresentada na quinta-feira, "e se vão ser vendidas máquinas ou instalações, e se vai ser comprado equipamento por alguém que queira continuar a laborar" com a fábrica.
"Numa situação como esta, agora de insolvência, é, consoante o dinheiro que vão fazendo, vai haver um mapa de um rateio parcial por parte do liquidatário judicial, que toma conta desta empresa, e vão dividindo o dinheiro pelos trabalhadores e pelos principais credores", afirmou.
A Lusa contactou o administrador de insolvência da Tupperware que remeteu esclarecimentos sobre o futuro da empresa e dos trabalhadores para depois da reunião de quinta-feira.
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