"Ainda que possam existir pontualmente atrasos nos pagamentos do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência], não pôs nada em causa na execução dos nossos projetos. Não há investimento em risco", assegurou o diretor de comunicação da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS).
Paulo Gonçalves falava aos jornalistas durante uma visita à comitiva nacional de 32 empresas que, de hoje até quinta-feira, participa na feira internacional de componentes para calçado e curtumes Lineapelle, em Milão, Itália.
Apontando os componentes para calçado -- representado por 13 empresas na Lineapelle - como "a força motora" do 'cluster', o responsável associativo destacou que este setor está a liderar os investimentos em curso nas áreas da sustentabilidade e de uma "nova geração de produtos".
"Estas empresas são quase todas PME [pequenas e médias empresas], não há propriamente empresas com centenas de trabalhadores, mas são, do ponto de vista tecnológico, do mais avançado que podemos encontrar a nível internacional e quase todas estão a investir de forma muito expressiva no desenvolvimento de novos produtos", enfatizou.
Segundo Paulo Gonçalves, algumas destas empresas "estão a investir em novas tecnologias para serem capazes de responder mais rápido, nomeadamente a [encomendas de] pequenas séries", enquanto outras "estão a investir em equipamentos precisamente no sentido oposto, para terem capacidade de produzir em grande escala", e muitas estão a apostar "no desenvolvimento de novos produtos, nomeadamente do domínio da sustentabilidade".
No caso da For Ever, marca de solas do grupo Procalçado, de Vila Nova de Gaia, a novidade em destaque nesta edição da Lineapelle é um projeto, em parceria com a holandesa Fastfeet Grinded, para transformação de sapatos velhos em matéria-prima para fabrico de novos produtos.
"É a possibilidade de tornar sapatos antigos em novos e fechar o ciclo completamente", destacou o responsável de 'marketing' da empresa, explicando que a nova tecnologia permite desmantelar o calçado velho e reintroduzi-lo na indústria para o desenvolvimento de produtos novos.
Já a Itaflex, de Felgueiras, que em 2024 aumentou a faturação em 10%, para cinco milhões de euros, regressou este ano à Lineapelle após vários anos de ausência, apresentando solas em materiais recicláveis e com componentes naturais, como resíduos de cereais e fibras.
Com 70 trabalhadores e França e Itália como principais mercados, a Itaflex aponta "a crise industrial da Europa" como principal preocupação, mas está, segundo o diretor comercial, Nuno Marinho, apostada em reforçar a base de clientes com este retorno à feira de Milão.
Depois de um 2024 "abaixo das expectativas", em que viu a faturação recuar 9% face ao ano recorde de 2023, para 9,2 milhões de euros, a Atlanta diz notar este ano alguma retoma da procura, estando a apostar nas solas em novos materiais sustentáveis para tentar fazer as vendas regressar ao patamar dos 10 milhões.
Segundo Paulo Ribeiro, presidente executivo (CEO) da empresa da Lixa, Felgueiras, esta tem vários projetos em desenvolvimento no âmbito dos programas Bioshoes4all e PRR, assim como um investimento na ordem dos 600 a 700 mil euros em equipamento, para aumentar a eficiência e dar resposta a picos de produção.
Já a JP Supersoles, de Rio Tinto, propõe-se aumentar este ano as vendas dos 7,4 milhões de euros em 2024 para os 7,8 milhões que atingiu em 2022, o seu melhor exercício de sempre, apostando para isso nas solas em poliuretano de baixa densidade e no desenvolvimento da nova marca própria de socas para uso profissional denominada Working Safe.
Segundo o proprietário da empresa, José Maria Pereira, o objetivo é que esta marca permita elevar a faturação até aos 10 milhões de euros em 2026.
Quanto à Bolflex, de Felgueiras, leva a esta edição da Lineapelle uma nova tecnologia de solas -- denominada E-SPOT Earthing -- cujo "princípio de conexão com a terra" diz conferir-lhes "propriedades holísticas".
De acordo com o responsável comercial, Pedro Saraiva, trata-se de uma sola com "tecnologia patenteada feita à base de injeção" que, através de um "dispositivo tecnológico feito de um material altamente condutor", faz "a conexão dos elementos naturais com o corpo".
"Este dispositivo está integrado na sola exterior, assegurando uma ligação constante à terra e trazendo os benefícios desta ligação à vida quotidiana", explicou, salientando que se trata de uma tecnologia "testada cientificamente", cujos benefícios incluem uma redução da inflamação e fadiga, relaxamento, alívio do 'stress' e uma melhor circulação.
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